domingo, 26 de junho de 2011

Um café com borboleta, por favor?


Naquela semana, o sol de outono já carregava as cores do inverno.
Seguia achando graça no trânsito e no atraso contínuo do trem que seguia até a capital.
Não era um dia como os outros, sentia-se estranha, com aquelas sensações tão incomuns.
Sete da manhã, não acreditou no cachorrinho branco e preto que corria no mesmo sentido dos pedestres, que ia atrás do fusca branco, numa velocidade impensada. E o latido anunciava, “A correria de vocês aí é insana, o que estiver para acontecer, virá em sua direção”. Acelerava os passos na companhia de mensagens criadas ao acaso, coisa de filme, de livro de auto-ajuda, cheio de frases prontas, cartazes e letreiros em sua cabeça. Só faltava uma borboleta cruzar no seu caminho. E não é que apareceu mesmo? Era o azul da calça jeans que ela vestia. Assustada com aquela aparição, quase tropeça e solta um sorriso enorme, em plena segundona. Quem a olhava tão feliz não entendia nada.
Após almoçar no Centro da cidade, tomava seu café feito com capricho de barista pelo atendente.
O moço que sempre a observava no balcão estava lá, e se aproximou com uma conversa diferente das outras vezes.
-Boa tarde! Disse o rapaz.
-Qual seu nome mesmo? Perguntou com a inocência de costume ao moço que parecia, até então, ser comprometido.
-Meu nome combina com o seu! Soltando a cantada mais criativa que ouvira até então, pois seus nomes eram de fato um pouco parecidos.
Após a conversa, seguiram a tomar um dos melhores cafés de suas vidas.
Na despedida de beijo no rosto, perfumes se misturaram num bouquet de aromas arábicos.
Dali em diante, seus telefones tocaram e o namoro começou ainda naquela semana, pois a conversa no balcão, tinha se iniciado mais ou menos há uns seis meses e tinham pressa de tudo, como o cachorro que correu atrás do fusca.
Passaram a trocar torpedos apaixonados, e seguiam filosofando o cotidiano, até então monótono.
Escrevendo seus carinhos pelo celular numa manhã de maio, em direção ao trem, sem perceber o movimento, atravessou a rua no mesmo instante que surge o cão branco e preto, seguindo novamente o fusca. Numa manobra arriscada, o carro, para evitar o atropelamento, invadiu a calçada e raspou em cima do cachorro. Era como se o bicho num latido dolorido lhe dissesse: “menina vai com calma, mais devagar, é necessário ter cuidado e atenção com tudo nessa vida, pra quê tanta pressa?”. O bicho quase morreu, e para salvá-lo, chegou atrasada no trabalho.
Desde então, não enviou mais torpedos enquanto andava, e o namoro engrenou naturalmente.
Hoje está casada e o cãozinho anjo mora em sua casa, com rodinhas de apoio nas patinhas traseiras, devido ao acidente, e a tal borboleta azul tem aparecido de vez em quando na hora do café.
Viveram mais felizes tempos depois, quando a paixão virou amor de verdade, conferindo paciência, carinho e tolerância ao casal.
O trânsito continua o mesmo, os trens atrasam, a luz nem sempre é tão bonita pela cidade, para perceber que a graça do cotidiano é descortiná-lo.
Terminaram de tomar o café na primeira semana de janeiro.
Despediram-se, e ela ficou pensando em tudo que não viveram.
No balcão, ainda saboreava aquele restinho de café frio, que continua amargo, e se termina de teimosia. Distante, acorda ao ouvir a xícara que cai de seus dedos, estilhaçando.
-Desculpe! A moça disse ao atendente.
-Não foi nada, senhora. Vai te dar sorte, pois acaba de pousar uma borboleta azul no chão. Você viu?
-Eu gostaria de ver, mas eu só enxergo sombras.

Maira Garcia

2 comentários:

  1. Que fofo! Adorei! Seria um grande prazer tomar um café com borboletas na sua companhia, espero que um dia aconteça! Saudades... Bj

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