quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Detido

Dia duro de furto. Antes de sair do centro, teria que usar seus sete dedos para realizar o feito. Não conseguira nada até então. Havia tumulto e aperto, perto do metrô, parecia perfeito. Uma dona distraída, que levava sua mochila vacilada, nas costas, olhava as fofocas da revista numa banca da Praça da Sé. O moço tentou fazer de conta que também via e le
vou sua carteira, bastando roçar e dedilhar, raspando o zíper. A mulher desceu as escadas indo para estação. Escondido e satisfeito, abriu a carteira, viu o que queria, mas voltou atrás com a cabeça, correu pela mulher. Correndo e agora de encontro, descendo escadas.
A mulher procurando a carteira pelo bilhete, antes da catraca, deu por falta e entrando em desespero ia na direção do guarda.
O rapaz chegou pouca coisa antes.
-Senhora, deixou cair sua carteira! Respiração curta e olhos assaltados.
-Deus te abençoe, moço! Segurando firme suas mãos, quase que beijando, em sofreguidão.
-Sou eu mãe, o Mariano, não me reconhece?
-Mariano, por onde esteve, se passaram quase dez anos! Tocando o rosto de um homem que um dia foi feito, agora procurando tatear a verdade em suas digitais.
Vozes da estação, multidão de dois, alguns anos na prisão, noites sem dormir, a eterna busca. A mãe não segurou a mão, o abraço com a mochila nas costas terminou em desmaio, mas não caiu. Dessa vez, foi o filho quem segurou. Embarcariam em algumas horas, em dois dias estarão na casa de mainha, em Feira de Santana, na Bahia.


Maira Garcia

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