quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Aqui o bicho também está pegando.

Uma andorinha se viu sozinha quando sobrevoava perto da Fundação Casa, no Brás, em São Paulo.
Não conseguiu entrar lá por causa das grades. A situação complicou pois uma sozinha não faz verão mesmo, porque a cidade está repleta de pombas e pardais, cujo território é marcado por força de artilharia pesada de digestão. A saída foi fazer um rasante no metrô, e foi lá que a pequeninha seguiu arrasando e embicando, a especialidade desastrosa da espécie mais cheia de bossa.
Conseguiu entrar em pleno horário do rush, precisou de coragem, mas não demorou muito e começou a falhar o motor no meio da paisagem humana. A primeira embicada foi numa senhora que gritou no aperto dos caminhantes:
 -Morcego! Que horror!
E começou a gritaria com tumulto. O coração da bichinha não estava segurando, e num impulso de poucos metros, seguiu o caminho da estação, e em menos de 30 segundos, entrou numa sacola, bateu num boné de dois que se beijavam e quando pensou que tinha chegado a hora derradeira, avistou aquilo que parecia impossível para seus olhinhos esmagados e apreensivos.
Encontrou na miopia da aflição, uma planta de alguém seguindo o fluxo do trem, e pensou:
- Agora me finjo de morta e assim que essa planta para de andar, eu escapo antes que o trem abra a porta!
Quando deu por si, as asinhas estavam quebradas e pensou:
 -É o fim da linha pra mim! Como eu vou sair daqui?
Pediu ajuda pro céu que ela sempre voa, mas a mão do santo que chegou foi diferente do pedido.
Um rapaz cheio da paciência no trajeto, um dos poucos que dizia com licença, por favor, espera um pouco, na pressão e calor do aperto, foi abordado por uma criança que estava com a mãe segurada no colo:
- Mãe, é o Batmam no cabelo dele? A mãe nem quis ver, mas o rapaz agradeceu o menino:
- Obrigado! E foi puxando as duas tranças de um metro e vinte, aonde o menino viu seu herói pendurado.
Era a andorinha e seus olhinhos esprimidinhos, em ponto de cruz, pedindo pelo céu se fingindo de estátua.
E o moço concluiu:
 -Foi Djá que trouxe você, pequenina!
O menino completou:
-Foi Deus quem trouxe o Batman, mãe? A mãe quando viu o tamanho da trança, puxou a criança para o outro lado e nem confiança.
E o rapaz da trança respondeu ao despedir-se do menino:
-Sim, acho que foi Deus que trouxe a andorinha!
E a ave foi com ele, protegida pela bolsa e a bandeira da Jamaica até o bairro de Guaianazes.
Ficou uma semana tratada com regalias de um rastafari e acabou indo embora, em cima da hora no verão.
Depois realizou um voo tranquilo até Pirituba, onde muito viva seguiu para cidade de Campinas, porque em Sampa, sem turma grande para voar em bando, percebeu que o bicho realmente está pegando.

Maira Garcia        

 Foto tirada com meu celular, na plataforma aonde esta estória acontece.

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