domingo, 6 de julho de 2014

Melaço

Melaço
Ela entrou no carro, ele não deu um sorriso:
- Vou precisar fumar um cigarro.
Ela mentiu ao dizer:
- Não me importo. E ele faz a pergunta:
-Você confia em mim?
No trajeto sem saber para onde ia, lembrava da confiança que havia depositado naquele encontro, no tempo que demorou para fazer 
as unhas, a depilação dolorida, a escolha da roupa e de tudo que precisava levar dentro da bolsa.
A fumaça do cigarro se espaçando pela falta de diálogo no carro, invadia o peito.
Ela tentou calcular o tempo que a fumaça seguraria seu perfume. Quanto aroma uma mulher alimenta diariamente, e não percebe o quanto esconde o próprio cheiro? 
A amêndoa do hidratante, 
a água de cheiro apropriada para um inverno tropical, 
o desodorante de erva-doce, e para finalizar, o óleo de frutas salpicado no cabelo.
E aquele moço bonito, dirigido, que não esboçava um sorriso, deve ter feito 
a barba, entrado no banho, colocado apenas um desodorante.
Numa esquina, enquanto
 se decidia para onde iam, ela abriu a janela para 
a fumaça poder sair, mas eis que entram as visitas, 
não os assaltantes de farol, os pedintes, os vendedores de água, os panfleteiros, 
os malabaristas, 
os lavadores de carro. As intrusas se agarram nos cabelos como presilhas, outras se escondem 
no peito, outras seguem cegas na direção das meias hidratadas. As abelhas mal educadas retiram a moça 
do carro, elas que não podem com a fumaça 
de cigarro, e não aguentam 
a falta de mel dos encontros desencontrados.


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