quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Luizinho

Morar embaixo da ponte, o único horizonte do Luizinho,
que não foi parar por amor, chegou até lá sozinho. 
O barraco queimou pra virar empreendimento, 
a comunidade se espalhou, e Luizinho ficou ali mesmo. 
Embaixo da ponte que não tinha pedra pontiaguda,
mas tinha uns fumantes das pedras, umas caixas empilhadas, 
cobertores cinzas. Luizinho ficava sem jeito quando a noite
trazia a Lua mais cheia. Despertador de Sol no rosto, noites de chuva,
o saco de plástico preto voador, o latido dos cachorros, 
as buzinas dos carros, um café emprestado, uma bituquinha de cigarro,
um banho no abrigo, uma princesa do lado. Luizinho, de 70 e
uns bocados, pouco dente na boca, não sabe explicar onde foram
parar os aposentos, os rendimentos, não lembra
onde colocou o cartão, traz o RG como porta-retrato,
do lado do travesseiro de roupas amarradas, 
só lhe faltaria uma casa, mas agora não lhe 
falta mais não, seus olhos brilharam com a chegada 
da Lua mais cheia, ele nem piscou, e o Sol nem precisou 
mais despertar o Luizinho, a princesa que estava do lado
não gostou, pois achou que o Luizinho morreu de amor.

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