domingo, 13 de setembro de 2015

Entrelinhas
Mais do que uma volta de carro, vontade dos amigos da vila, o menino queria uma volta num terno, bem alinhado, recortado
feito sob medida. Menino num terno, demorando dentro do que seja a tal fortaleza dos tecidos, a costura, o lugar dos bolsos, um certo brilho
que tende para o fosco. Um terno, em qualquer lugar do mundo, pode ter um cadinho de autoestima, no meio das bermudas, nos corres dos tênis, nas abordagens da cidade.
No colo da avó, ouvido bem pequeno de ouvir.
O menino, volta e olha no espelho.
- Um terno bem recortado, acinturado também cabe muito bem nas meninas, nem que seja apenas por um dia.
Ouviu isso da avó costureira. Costurado com toda maestria.
- Os alfaiates estão desaparecendo, mas eu ainda quero
fazer experimentos de alfaiataria. A vó sempre dizia.
- Para os pés no chão, peço sapatos femininos mais
confortáveis, de fácil encaixe.
Para serem bonitos, sapatos inventaram
que tem que machucar os dedos, e causar calos, menino!
- Vou abrir uma loja de ternos feito sob medida! Falou o neto.
Lá, terei também, sapatos bonitos que não machuquem, seus pés, vózinha.
Que fiquem bem, até às seis, na sua volta do trem.
- Quero fazer roupas que nos passem a coragem merecida, que o tempo descostura. Me distrai conversando com você! Vou ter que refazer um pedaço da manga!
O desmenino, deixou a foto da vó no relicário na sala, perto da porta.
O neto colocou na cabeça, o que chegou soprado nas entrelinhas.
Olhou no espelho como ficou bonito e confiante, com o terno cinza, impecável, mesmo sem um pedaço da manga. O mesmo terno que vestiu no dia do velório dela.
- Eu vou ser alfaiate!

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