segunda-feira, 27 de junho de 2016

Falatório

Não importava mais ser ignorado, invisível, inexistente. Recortou pessoas nas revistas e colou no caderno, numa página aberta, ocupando as duas folhas. Encontrou pessoas comuns e famosas, da cor bege, caramelo, cinza, marrom, preto e branco marfim. Se estavam mal vestidas, tratava de criar roupinhas e colar por cima. Podia ver o Pelé ao lado da Xuxa novamente, o Papa Francisco e a Gretchen. Ao todo eram trinta pessoas grudadinhas, num quadro colorido. Abria o caderno ao meio e falava com todo mundo, e eles respondiam. Gostava de fazer isso antes de dormir, antes de rezar, antes de escovar os dentes, antes de tomar o banho e deixar o copo dágua ao lado da cama. Feito isso, boanoitava o povo e dormia feliz.

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