quarta-feira, 21 de junho de 2017



O livro é aberto na mesa, as folhas dividem ao meio e se equilibram flutuando até pousar na capa. Pela fresta do livro, sai a mulher com uma revista nas mãos. Pedem gibis os que não alcançam as estantes. Um menino pega, corre e tropeça em seu chinelo. Ao cair é socorrido pela atendente. Numa mesa, o morador de rua consegue matar piolhos na página do livro que ele nunca leva. Idosos discutem política quase rasgando o jornal de empréstimo e são lembrados do barulho. A moça que estuda para concurso espera seu amigo pra aprender matemática. O poeta rascunha versos em papel de pão e coloca nos livros achando que ninguém está vendo. A menina que já leu todos os livros da Clarice, agora lê Cervantes, vem renovar o empréstimo. O funcionário da prefeitura, com o livro atrasado, reclama para bibliotecária seus dias mais que imperfeitos. O casal atrás da estante irrita a todos com o estalar e gemidos de seus beijos.
O livro que se fecha na mesa, alguém o leva certo de ser um de seus protagonistas.

Para a Biblioteca do Sesc Carmo, que me trouxe os personagens deste texto.

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