terça-feira, 4 de outubro de 2016

O pregador
O homem pregava no último vagão, como o terno e a bíblia dava muito na pinta começou a usar disfarces. Pegava o trem depois da hora do rush, com destino a última estação. Neste horário, poucos dormiam e sendo sexta-feira, sua pregação se iniciava com: Happy hour com Jesus. Falava muito bem inglês, do tempo que foi mórmon, por ter aprendido com eles, o que possibilitava cantar louvores do subúrbio de Nova York traduzindo cada frase na sequência. Dominava as palmas e a percussão que fazia na porta do vagão e nas laterais de metal, adquirido nos templos de candomblé. Do evangelismo trazia a oratória, fazia um show, porém não raro, podiam presenciar lutas verbais e de braço de tanto chamar e gritar o nome do capeta. No dia que isto se sucedeu, estava disfarçado de enfermeiro, todo de branco, feito um pai de santo, não se sabe o que motivou o fenômeno jamais presenciado em nenhuma linha de trem, o fato é que a cada palavra e apóstolo pronunciado ia um a um caindo no chão. Não demorou muito e o vagão inteiro transformava-se num terreiro. O maquinista, que assistia tudo pelo monitor de imagem, perplexo, parou na estação seguinte. O homem de branco em estado de choque, desistia ali de suas boas intenções de levar a palavra nos vagões. Os seguranças não tiveram muita dificuldade de retirar os passageiros que ainda estavam saindo do transe catártico das palavras santas. O pregador, no meio da balbúrdia, teve uma visão na audição, pregaria a palavra na prisão, era pra lá que seria levado após provocar pela ultima vez um happy hour no trem.

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