terça-feira, 28 de junho de 2016

Um lugar
que você vá,
que seja
um caminho pra mim,
eu te encontro.
O que você fez,
não se faz,
doeu demais.
Você ficou num lugar 
que toca música triste.
Deixo você como está,
pois quando parar de tocar,
a dor não mais existe.
quase azul 
quase inverno
quase verão
Algo bom, depois de algo ruim,
parece alegria sem fim.
Felicidade é feita 
de coisas tão pequenas,
estrelas poeiras suspensas.
Não precipita,
neblina.
Este mesmo céu 
está no mesmo lugar.
Gira a Terra na espera de chegar.
Tão parecido
que parecia 
que eu falava 
comigo,
mas era
um amigo.
Amizade espera
o dia de se conhecer,
e se reconhece.
Amostra-grátis
Experimenta pra ver se dá certo.
Efeitos colaterais
previstos, menor custo benefício.
A tarja é vermelha,
não cria dependência,
mas tem seu perigo.
O sorriso está incluído,
um abraço, até um dia,
não falemos mais nisso.
Perde-se a mão
na conversa.
Um fora no coração
que nos interessa.
Saber levar um fora é preciso treino,
assim como foi andar de bicicleta,
depois que aprende não cai mais.
Ontem, não conta,
que já foi.
Amanhã
torna a vida ansiosa.
Importante
é viver
agora.
Meu país cutuca a onça
com vara curta
e mata.
Mata índio
e faz estrada,
mata negro pobre
e se mata.
Meu país um dia nascerá
pra nunca mais
morrer de tanto matar.
Um dia vai ser onça e cutucar
o homem.
O inverno é masculino,
tem gorro, usa jaqueta sem cintura e calça.
O inverno gosta de bota pesada.
O inverno usa pouca saia. 
A saia se recolhe e só sai se tiver muita meia.
Enquanto o verão é leve e feminino,
o inverno é o menino da estação.
E o vapor das bocas
se beijaram, e não sobrou
muita conversa.
O que corre fora,
o que corre dentro,
eu não verso.
O vapor que só
se enxerga
no inverno.
Sofre um bocado,
come um bocado de manga,
tira um coelho da cartola,
numa noite de samba.
Vou me recolher com as folhas
dos cadernos que existem
nas árvores.
Para aprender a lição do tempo.

Os dedos mereciam luvas, mas a ideia de ter as extremidades gélidas lhe era agradável. Trazia uma jaqueta surrada, um velho jeans e chinelos de dedos. Um cobertor cinza cobria os pensamentos, mas tinha os dedos pra lembrar do tempo, de que trazia o cinza para deixá-lo transparente na paisagem. Quando isso acontecia lembrava dos dedos, dedos que contavam os dias num calendário de cartão de bolso, dedos que se juntavam pra enxergar o céu azul queimando a fronte. Dedos que rezavam, dedos que andavam, dedos que faziam figa, dedos que pediam comida. Dedos.

Me despedacei,
me desfiz,
fiquei
entre as folhas
das flores que
você viu
em mim.
Adubei,
renasci.

Dói mais quando vem
de um coração
que se quer bem.

Quisera fosse um inimigo,
assim faria mais sentido
um desdém.

Meia dúzia de sóis,
meia dúzia de luas.
Meias verdades.
Meia pataca.
Meia meia meia
Mais valia,
mas valia nada.
Um amor que não vai,
vai tarde.

São delicadas
estas asas
nas minhas costas.
Alma exposta de todo
sentimento,
que espalha penas brancas.

De anjo não tenho nada.
Sou pomba.
Que voa até encontrar
um qualquer lugar.
E olha fingindo que não vê,
fazendo barulho na presença
de você.

Tem dia
que a gente morre
um pouco,
pra viver tudo
de novo.

Quando ele nasceu, eu usava cabelo pela cintura, calça camuflada com coturno, não era do metal, dark, ou punk. Quando ele nasceu, eu ouvia o primeiro disco da Madonna, ganhava e perdia o primeiro amor, o rapaz mais bonito do colégio chamava Andreas Kisser, e a banda dele era Esfinge. Quando ele nasceu, eu me orgulhava de ser do ABC, de quase ter sido atropelada por ter visto o Suplicy
atravessar a rua para ir na gincana do meu colégio. Quando ele nasceu, eu tinha uma fitinha do The Clash, comprada numa lojinha da estação da Luz, para ouvir num walkman no trem. Quando ele
apareceu, com a barba por fazer, alguns
grisalhos e umas entradas, sobrancelha falha, marcas de expressão ao dar risada, eu jurava que ele tinha mais de trinta, e ele jurava que eu tinha menos de quarenta.

Quando ele nasceu eu morri.

Hoje eu peguei
meu vestido
mais bonito.
Pra disfarçar
aqui dentro
um sentimento
feio, algo esquisito.

Passeio por entre as pessoas,
o sentimento se perde,
enquanto ganho olhares.
Finda
o desassossego
do peito
em meio da humanidade.

Um patuá branco ,
costurado com linhas vermelhas,
tem um santim miudim,
arrematado num panim
vem junto com papel dobradim
em quatro partes assim.
Tem uma oração comprida,
cumprida, feita de palavras miúdas,
para proteger o peito esquerdo.

Cicatrizes que carrego,
só me lembro quando
alguém as vê.

Já foram vermelhas,
hoje são brancas e brandas,
as tenho desde criança,
e é por isso que brincam.

Aprendi a gostar delas.

Como a da sobrancelha,
a que mais gosto,
confere leveza no rosto.

Ipiranga, do grito,
da dor, do alívio,
dizem que assim
foi o grito.
Dom Pedro
do grito.


Esse vício,
que tira a fome desde o início.
Aceleração do pulso espalmada,
pupilas grandes,
desatenção desatada.
Esse vício não tá com nada.
Que a boca fica seca inteira,
bebe água aos montes,
sobe a ladeira.
Esse vício desarma os soldados,
acompanha os enamorados,
é um vício desalmado,
que dói sem rescaldo.
É a paixão, vermelha tão malvada,
tá com tudo e tá com nada,
só vale se for por amor.

Se  pudesse parar o tempo levaria meu coração pra passear sem pedir um momento. Se pudesse parar o tempo faria sentir o que sinto o que não tem sentimento. Se pudesse parar o tempo
não seria eu,
seria Deus.

A gente cai nos mesmos
erros e subtrai.

A gente levanta nos mesmos
acertos
e vai
somar
adiante.

o ouvido aceita
o peito arde
a vontade rejeita
mas a boca

não.

Eu pedi a palavra,
carreguei comigo
junto com as aspas.

Eu pedi a palavra,
mas esta
ficou atravessada.

Eu pedi a palavra,
ela veio com as
sílabas separadas.

Eu pedi a palavra.
Ela não veio e ponto.

Queima a pele,
os olhos teimam,
e querem fechar,
resta a sombra
do que não se sabia.

Era o Sol do meio dia.

Existe um gostar
que não mais existe,

insiste.

Sobrevive nos livros,
nas canções,
nos museus
e filmes,
nos bancos das
praças,
que ninguém
passa.

Um gostar cheio
de traças.

Ando esquecendo
compromissos importantes.
Esqueci
meu amor numa estante.

Porta estandarte dos retratos
que saem da gaveta
pra tomar uma fresca.

Nem aí com o ciúmes de ir e vir,
nem aí com a beleza da monotonia,
nem aí com a saudade,
nem aí solidão,
nem aí.

Coração
acostumado
a bater sozinho,
fica estranhado
quando ouve outro
barulhinho.

A gente se apaixona
no pretérito imperfeito.

Coisas piores

quando

acontecem,

as melhores

aparecem.

Questão de tempo.

Choro primeiro por dentro,
começa no ouvido,
sobe pra cabeça,
desce até o coração.
Do coração parte pros olhos,
salga a alma e as lágrimas caem.

Rio primeiro por fora,
começa no ouvido,
sobe pra cabeça,
desce até a barriga,
a mandíbula relaxa,
a garganta trepida,
convidando alguém pra dançar.


nova versão em 9 de junho de 2021

Choro primeiro por dentro,
cai no ouvido,
sobe pra cabeça,
desce até o coração.
Do coração parte pros olhos,
salga a alma e as lágrimas caem.
Rio primeiro por fora,
começa no ouvido,
sobe pra cabeça,
desce até a barriga,
a mandíbula relaxa,
a garganta trepida,
convidando alguém pra dançar.

Eu queria que meus poemas fossem gatos. Que seus pelos aquecessem os verbos, lambessem as palavras, arranhassem o idioma, miassem agudamente no cio. Queria que meus poemas fossem curtidos como os gatos, invejo os gatos, que todos, quase todos amam. Queria que meus poemas encostassem nas pernas do leitor e subissem até o colo e fizessem dormir com afagos. Queria que meus poemas fossem gatos.

Ele não fala mais de amor,
perdeu a mão.
Diz que volta a falar
assim que entender
a questão
mais importante,
a que define
como vai ser a vida
das pessoas
depois das decisões
tomadas pelo poder.
Diz que volta quando
o amor tomar o lugar,
mal sabe ele que um dia
o amor tomará o poder,
mas até lá a gente vai morrer
pela demora.
Quem sabe ele desiste
de esperar a conclusão dos fatos,
e volte a falar de amor sem embaraço.
Ele é poeta, mas anda sofrendo
com tanta realidade, os homens
de terno dão remédio pra não dormir,
parou de sonhar,
esqueceu o verso
em algum lugar
do Congresso.

Felicidade pede descanso,
tristeza tem seu encanto.
Vida tem calmaria.

Sentir tem suas nuances,
nada é constante,
nada será como antes.

Bordão fácil,
vida difícil.

Tem sido assim,
desde o início.

Observar

não é sacrifício.

A gente não faz amigos,
amigos esperam o dia de se conhecer.

Pessoas nas chuvas se assemelham aos vitrais. De dia brilham reluzentes, de noite iluminadas por cristais. Pessoas vitrais inconscientes, ficam decalcadas em nossas mentes, cai água, molham, sobrevivem nos olhos que olham.

As calcinhas se rebelam dos sutiãs, as cuecas se enroscam nos fechos. O amaciante arremata a lavagem, as meias chutam o balde. Peças feitas para lavar à mão se desmotam na máquina de lavar roupa, algumas vezes por semana, embaixo dágua, perdem a sensualidade e o bom senso, vão se desgastando mais rápido que o tempo.

Como não amar um defeito?
Ele que desarmoniza a perfeição,
mancha, risca e atropela a baliza.

Do amor surge a questão
que contabiliza
a dúvida de então,
o vão que inferniza.

O trem rasga o tempo.

Ei!

Você aí,
que não sente pulsar,
não está nem aí,
e não está em si.

E está bem aí.

Silêncio,
que você pode ouvir,
ao pressionar a corredeira
que passa dentro da mão.

A vontade tamanha do corpo,
não é bom contrariar.
Ele sempre retruca
cheio de vida.

E corre no corpo,
enquanto a alma
levita.

Ei!

Os que sobem sabem subir.
Os que descem sabem descer.
Tem quem ensina.

Ela estava olhando o céu
com suas gotículas de vidro
gris. Parada esperando o sinal sorrir.
Deu para olhar para os lados, sentir
o inverno do lado, mas...

O ônibus passou rente e jogou água,
e ela acordou.

Aconteceu hoje, comigo, na Paulista.

Nublado,
coberto de razão
foi o Sol
dormir na estação.
Deu sono,
sonata de outono.

Ela que foi tomada pelo ímpeto
de colocar um fim,
antes da história terminar.
Foi salva por um querubim,
e foi assim que continuou
do lado de lá.
Que nenhum poeta, nenhuma pessoa,
artista ouse atravessar
os limites da vida,
e possamos rezar
por todos
Maiakovski,
Ana Cristina César
e Frida.

Adio,

adio coisas inadiáveis.
Deus me perdoe a falta
que o tempo faz.

Me pega
pelos braços
os pelos eriçam
as mãos escrevem
o sentimento
me guia
e assim
eu faço
poesia.

Cansou da
canção triste,
pra quê chorar
mais
do que o coração
resiste?

Pendura uma rede na rua,
quem sabe o Sol se esconde
e aparece a Lua?

E foi de ouvir
contar uma dor,
que cortou o peito
de um jeito invisível,
com efeito.
E foi de ler uma dor
que as palavras vermelhas
mancharam o papel
e coagularam em flor.
E foi de tocar uma dor
que se ouviu a música mais
triste que existe.
E a dor que passou quando
alguém sobrevive.

A chuva goteja reticências.

Estão caindo palavras na
vidraça e adjacências.

Ah! Foi o amor que te deu essas asas,
mas você nem quis saber,
de ter passagens
paisagens
de graça.

Viver é também conviver com o "arrocha",
cujo som você não gosta.

E quando cinza branco
toma conta,
o azul descansa
nos olhos de quem
descansa.

Amor bão
é aquele
que ao ir
embora não foi.

Um desocupado pelo mundo, frequentador de abrigos obscuros, ladeado de mantas cinzas a confundir a paisagem, em meio a peças de chão prateadas. Juntador de pequenas bobagens, miudezas glamourosas a alegrar a miséria numa caixa de papelão. Uma colher de sopa da Tramontina, um anel de plástico com pedra azul, um disquinho do Antônio Marcos, uma guia de Santo, um salmo 23 num calendário, dois dedos de perfume feminino da Avon, um espelhinho, uma lixa, escova de dentes e uma flanela.

Querida poesia,
que de tão concreta
machucava.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Sorrir sozinho
pra encontrar sorrisos,
sem vergonha de mico,
pra buscar poções
 de simplicidade
 salpicadas
no caminho.

Felicidade

Meu poema, para o Gal Oppido, após ver sua exposição "Sentidos da Pele", na Galeria Lume.

Pessoa que cintila,
água que não molha
cobre,
diante da luz vítrea,
pode encostar que não
quebra, mas cuidado
que tem vida.

O pássaro canta
como quem
dialoga.

Um piado
que canta,
outro que chora.
Sabe a meia perdida na casa, sem par? Está encardida esperando lavar, sem saber se ainda terá companhia nessa vida, ou se vira pano de limpeza, mediante a solidão de não ser mais um no pé de alguém.
Roubaram a palavra,

ficou a ausência de som,
no boletim de ocorrência,
a mudança de tom,
no silêncio da audiência.
céu
Sol,
açaí.
Ao ex-amor,
que não concordava
com cada palavra.
O que antes caberia,
 agora tinha vaga.
Não saber o que falar, melhor não ter nada a dizer. A frase aqui se autoexplica, redundante como certas lições de vida.
Agora não me entregue presentes,
entregue passados bem embrulhados,
e me entregue futuros.
Futuros desembrulhados,
 com o Sol ao fundo,
com música de final feliz.
Saudade tem
uma verdade.
Saudade
 releva metade.

Longe
vão
defeitos
 pequenos.

De perto
50%.
de aumento
Cansei
de desmerecer
 meu ser.
Agora serei
o que Deus
 quiser.
Algo bom, só é bom se dá para entender,
senão é perda de tempo.
Posso querer o Sol,
o céu e o Sul,

uma vez que
querer já é muito.
Ele é o homem
 mais bonito do mundo

quando me abraça
 e deixa a barba

descansar em meu ombro.

e depois trocamos
ósculos e planos de voo.
Abri a janela
e vi o gelo,
cujas partes duras
riscam a pedra.
E não vertem fogo.
Da ventania fria,
a faísca dos temperos
 brasileiros,
o tempo inteiro.

Abri a janela.
Véu encobre a esfera branca,
Lua espera antes
de começar a dança.
A porta na cara quebra o nariz, sangra,
bate na testa, dá dor de cabeça.
"A porta na cara" da expressão que se fala,  dói menos, a recuperação é rápida, basta a vontade de bater em outras portas.
árvore vê-la,
minha mãe novelo.
Para não aplaudir
é que as asas voam.
Falatório

Não importava mais ser ignorado, invisível, inexistente. Recortou pessoas nas revistas e colou no caderno, numa página aberta, ocupando as duas folhas. Encontrou pessoas comuns e famosas, da cor bege, caramelo, cinza, marrom, preto e branco marfim. Se estavam mal vestidas, tratava de criar roupinhas e colar por cima. Podia ver o Pelé ao lado da Xuxa novamente, o Papa Francisco e a Gretchen. Ao todo eram trinta pessoas grudadinhas, num quadro colorido. Abria o caderno ao meio e falava com todo mundo, e eles respondiam. Gostava de fazer isso antes de dormir, antes de rezar, antes de escovar os dentes, antes de tomar o banho e deixar o copo dágua ao lado da cama. Feito isso, boanoitava o povo e dormia feliz.
Ouvi a voz em botão do caboclo mirradinho, cantando curvado na  bicicleta, ele e sua enxada imponente rasgando o horizonte.
Não sei se é fé, mas perdi os olhos
no Sol, que só por Deus.
Amor bão
é aquele
que ao ir
embora não foi.
Amor bão
é aquele
que ao ir
embora não foi.
Vou me dar o trabalho para trabalhar,
e se ficar sem trabalho
vou inventar algum trabalho
para não me atrapalhar.
A pequena morte, de Eduardo Galeano, tenho a ousadia, a caruda de trazer a minha versão. (Nos comentários postei o texto do autor. Uma riqueza!)

Não sentimos cócegas nas extremidades do amor,
nas extremidades estão os gemidos
 e a dor da própria sorte do amor.

Pequena morte, como chamam na França, a culminação do abraço, que ao nos desmontar, nos junta as juntas e os versos pelo braço. Grande é a pequena morte, que ao matar nos faz viver.
As gotas tictaqueam
ao seu tempo,
ignorando o relógio.
Nelas residem tardes longas,
 noites lentas e manhãs curtas.
Existem formas duras,
para outras
literatura.
Eu guardei num
pacote de pão que é
pra melhor aproveitar
a situação,
mas você começou
 a murchar pra valer
e depois pra piorar
começou a endurecer
o coração, então te soltei,
e ainda bem, ainda bem
que eu sonhei.
Os vendedores do trem, domingo de Sol, comparecem em peso. Água mineral, bala, capa para documentos, Doritos, chocolate kit kat. Precisa ter voz forte, quanto mais forte maior o alcance. Um real, dois reais é o valor mais alto, e se levar mais unidades, compra com o preço abatido. O barulho dos pacotes e a campainha é a música que fica depois de suas passagens. E poder ouvir as vozes dos passageiros, alguns comendo os itens do shopping trem, tem um querer de paz. O segurança vai chegar, mas ele nunca chega, e as coisas permanecem as mesmas enquanto mudam de vagão.
A sorte de todas as cartas
é serem enviadas.
Amor selado guarda
palavras miúdas,
rascunhadas
em letras que não
 se escrevem
mais.
A Lua teve o despropósito,
na escuridão,
de ser redonda e branca
pra chamar atenção.
Hoje numa consulta médica, na espera, não teve revista de fofoca, mas teve uma senhora de 69 anos que nasceu no Ceará, mas é da Paraíba, não gosta da Apple e prefere Samsung, acredita que vivemos num país dos comunistas. Ela fez dinheiro comprando sítios de aposentados, e revendia depois de alguns meses por três vezes o valor do imóvel. Adora Poços de Caldas, e seu hotel preferido na cidade é o Plaza. No prédio onde mora é muito querida pois acham graça que ela seja nervosa, por falar tudo que vem na telha, e ao mesmo tempo fazer o povo rir de suas piadas. Ela falava pra todo mundo ouvir na sala do consultório. Dona Maria tem Facebook, pena não ter falado seu nome inteiro. Fiquei curiosa pra saber como seriam suas postagens.
O que dizer quando as palavras falam?
Correm pra você e desabam.
Letras sobrepostas criam outras respostas.
O que dizer quando as palavras falam?
Nada, para, escuta o diálogo.
Discursos hemorrágicos,
vontades estanques,
sede de palanque.
Escolho poemas pelo viço
das palavras, as cores e o cheiro
que exala
de cara lavada.
A mandíbula distraída
pelos olhos ficou boquiaberta.
Não sabe se é beijo,
ou bocejo.
Embaixo do tapete, empoeirada
está a felicidade, que a gente esconde
 e depois esquece, e sem querer pisa
não sabe onde.

Então chega o dia de limpar o tapete, e a felicidade surge radiante no piso, esperando
que alguém lhe resgate e coloque no devido lugar.
A escada,
a calçada
que vaza.
A moça sentada.
A sentença da saída na palavra.
Final do dia e alguém percebe ter ganho na loteria. O dinheiro não existe, mas os pés meio que flutuam na via. Os carros transitam com dificuldade.
Milionária questão que corre. Ter o céu em mãos, e o ar vendido da cidade no rosto. A ansiedade surge como um tênue detalhe de felicidade.
Quanta verdade
se esconde
atrás de uma mentira!
Se a mentira disser
 que é verdade,
a verdade dirá que é mentira.
Amigos são
anjos de altares
no chão.
É pra não voar
que seguram as mãos.
E ao chorar, ombros são lenços.
Amigos têm nos sorrisos seus documentos.
Andam juntos mesmo separados,
não sabem o que é hora imprópria,
domingos e feriados.
Amigos são anjos de altares no chão,
abraços são aterrissagens.
As pessoas gostam mais de poemas de amor. Talvez seja culpa do DNA do poema, concebido em cantiga de amigo.
Poema de amor cutuca, faz sentir o que dá esperança de amor. Eu também gosto de fazer poema de amor, ainda mais pela reação que causa. Fazer ruborizar as faces,  caçar lembranças, sentir saudades. Virar pretexto de indireta, puxar conversa, tornar-se festa quando prega peça de cupido.
O meu e-mail vai acabar,
estou sendo despejada,
não dá para ignorar palavra por palavra.
Mensagens de tanto valor,
imagens arquivadas,
cartas de amor,
palavras calibradas.
São tantas caixas,
envelopes timbrados,
comunicados do banco,
"spams" malcriados,
recados aos bandos.
Uma ponta de tristeza
 nos pontos finais das mensagens,
tornando sérias pequenas bobagens.
Adeus, meu e-mail, até não mais ver,
 vou arrumar um meio de guardar
 o que sobrou,
preciso esquecer você.
A tortice da vida
é doce, visse?
Que direita salga.
Das duas, a tomar
muita água.

O meio é o recheio da alma.
Descia a rua, os sinos tocaram junto aos prédios antigos, pra contar que por ali muitos viveram antes e muitos ainda viverão. A rua, que não tinha dono, fazia o ciúme invadir o coração de um transeunte, que não mandaria ladrilhar todos os brilhantes que via na Rua São Bento. Parou, olhou para o céu e sentiu uma baita saudade na presença do chão.
A chuva cai se o Sol puxar a manta pra dormir. Se fizer chuva e Sol, ele puxou a manta e saiu andando por aí.
Salvem os corações,
salvem as cabeças
que hão de luzir.

Querem apartar
o que veio da mesma
 forma,
que chegou na mesma
 forma,
 com o
intuito de ruir.

Salvem os corações,
salvem as cabeças
que hão de luzir.
Preciso de um pouquinho,
um cisco de felicidade
pra fazer um bolinho de vontade.

E sem um tiquinho,
faço outra refeição,
invento um bolo de vento.
E quando a Lua
aparece
 depois
 da chuva.
Diamantes
nas árvores,
estrelas no chão.
O sonho e o pesadelo você distingue quando acorda.
Papéis picados,
 rompem as letras
 pela ar,
borram desenhos
 e recados sem leitura,
antes da terra pousar.

Seguram segredos
comemorados em silêncio.

Sujam o chão sem encanto.

Antes de pousar, papéis picados
são bonitos de se ver,
lembram no alto a neve
que não cai no calor,
lembram o dito pelo não dito,
o que faltou ser escrito,

o que não finaliza pelo visto.