sexta-feira, 29 de março de 2013

O gato e a bruxa.

A bruxa para o gato preto, toda enfadada:
-Gato, você me realiza só um desejo?
Bem que você podia virar aquele gato perfeito, que eu sonho, daquele jeito?
O feitiço foi atendido, e o gato virou um sapo.

Maira Garcia

quarta-feira, 27 de março de 2013

terça-feira, 26 de março de 2013

Outono na linha

Pousou nos olhos dela, e ela nem aí.
Posou nos olhos dele, e ele nem aí.
Uma andorinha também não faz outono sozinha.

segunda-feira, 25 de março de 2013

O visto.


Vai descobrir,
quando voar pelo céu, de avião,
perigando não voltar pro Brasil.
Vais descobrir um país.
Vai correr pro consulado e tirar um visto,
o último visto de mim.


Maira Garcia

Trópico de Capricórnio

Sem agasalho, peguei chuva,
no meio dia, a frente fria.
Lembrei de você de tarde,
ganhei boa noite,
aqueceu bom dia.

Maira Garcia

Até é quando?

Até mais, é quando?
Até, fica aonde?
Quando?
Ninguém responde.

Maira Garcia

domingo, 24 de março de 2013

Assim contou Arnesto ou samba da bênção.

Foi Arnesto que te chamou pro samba, lá no Brás e você não foi.
A reiva que ele teve foi parar no Jaçanã, mas passou indo num culto
que rolava na igreja ao lado, depois que o samba acabou.

Maira Garcia

sexta-feira, 22 de março de 2013

Já se sabe como se beija.


Percebe como se escreve,
e já se sabe como se beija,
mas isso não se escreve, se beija.

Como se beija, já se sabe como
se escreve, e isso não se percebe, se deixa.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Para todas ruas direitas do mundo.

Toda Rua Direita que há no mundo será sua,
bastando que passe por ela.
Toda Rua Direita do mundo, tem o lado esquerdo.
Toda Rua Direita do mundo é rua o dia inteiro.
Todas as Ruas Direitas do mundo, se quiser pode ser bonita,
feia, estreita, larga, faceira, mas no fundo,
 podem ser erradas,
tudo depende de quem passa.

fazendo mudas

Partes que partem,
e a planta segue muda.

Maira Garcia

Para crescer.

Algumas partes
precisam partir.

terça-feira, 19 de março de 2013

duras palavras duras

Já lera o que se escreveu,
não com as mesmas palavras,
mas como se contou, da forma
que se condo-eu, não, não precisava.
Duras foram as palavras
duras da carta que lhe amassava.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Sem dançar

Eu queria ter dançando na sala,
mas faltou nos darmos as mãos.
Queria ter um beijo, mas faltou um selo,
pois a sua vontade se atrasou,
mais uma vez ela não veio.
Tivemos o abraço de irmãos.
O dia que eu dancei com a saudade.

Beijo que voa.

beijar sem encostar
sem selo,
sem sê-lo.

domingo, 17 de março de 2013

Vista cansada

Queria ficar com você até aonde a vista alcança,
mas você está demorando pra chegar, e é aí que a vista cansa.

Demorou.

Motoboy, oi!
Por favor, entregar logo,
a encomenda de ontem,
que o amor se entrega amanhã.
Muito obrigado. Tchau!

sábado, 16 de março de 2013

Pedro e Piera.

Na quarta-série, Piera estudava com Pedro, que se paqueravam, mas como ele era tímido, ela tomou a iniciativa primeiro.
Piera boa de matemática, Pedro o bom de gramática.
Ambos se ajudavam e no final de cada lição, ela perguntava:
- Você gosta de mim, Pedro? E em silêncio, ele avermelhava.
Feito isso inúmeras vezes, durante o ano, da última que fez, ele soltou o verbo, dizendo um quê de sim:
-Sim! Dizendo que da Piera, ele gostava.
Tão logo respondeu, os olhos dela desafirmaram, acabaram os acentos, as equações, e Piera não veio mais saber de Pedro, que sempre avermelhava.
A partir daquele dia, no fundo da sala, Pedro quebrava a cabeça sozinho, fazendo suas contas, fingindo que não ligava, mas deixara naquela sala em segredo, um Pedro que era criança, que da Piera ainda gostava.

Maira Garcia

sexta-feira, 15 de março de 2013

quinta-feira, 14 de março de 2013

É guerra

Tirando o pó do velho coturno,
colocando o casaco no sol,
descarregando as armas dos olhos,
limpando o batom e o kajal.
Novo turno, hora de se desarmar.
De se sujar de tanto amar.

Segundo batidas do coração.


Em segundos,
segundo batidas abatidas do coração:
A paixão é a encarregada de viver mudando de casa.

Maira Garcia

Blues da inocência (habemus blues)

Me ensinaram a não acreditar em Deus,
para que ele acreditasse em mim.
Eu ouvi isso de um velho ateu,
que vivia muito perto daqui.

Não há maldade dentro de mim,
não há maldade dentro de mim.

Eu andei o mundo a fora,
pro meu mundo ter sentido pra mim,
eu rodei sem ter medo embora,
nunca esquecesse as pessoas de mim.

O que foi bom, eu me lembro agora,
o que não foi, eu esqueço assim.

Não há maldade dentro de mim,
não há maldade dentro de mim.

Pra seguir eu deixei muito amor,
se eu ficasse não iria seguir.
Fui sincero nunca causei a dor,
distribui com carinho e jasmim.

Não há maldade dentro de mim,
não há maldade dentro de mim.

E o trabalho nunca me faltou,
em muitas casas e barracos vivi.
A juventude num segundo passou,
virei o velho que hoje canta assim.

Não há maldade dentro de mim,
não há maldade dentro de mim.


terça-feira, 12 de março de 2013

segunda-feira, 11 de março de 2013

Pra deixar no mato

Orquídeas não são de viver entre paredes,
seu cheiro ao azedar é para lembrar
que seu lugar
de perfumar
é no mato.

domingo, 10 de março de 2013

sábado, 9 de março de 2013

45 rotações por minuto.

A música foi pretexto de amizade,
terminada a canção, os compositores não se encontrão
mais pela cidade.
Quem pedia mais assunto pra falar, num misto de alegria a perder de pauta e vista?
-A vitrola, a agulha e o disco.
Chega perto do aparelho de som e escuta a chiadeira e o risco...

De quem é?

Dizem que a vida é filha desse pai,
e tem sido a filha dessa mãe.
Filha de vários pães.

Queria star com el Sol.

Queria estar,
Não era star.
Já era estrela.
Cadê o Sol?
Não veio vê-la.

quarta-feira, 6 de março de 2013

relógio de peito.

Não me beije,
que eu não posso gostar de você,
então me deixe agora,
que está quase na hora
de eu te esquecer.

terça-feira, 5 de março de 2013

segunda-feira, 4 de março de 2013

sábado, 2 de março de 2013

Como surgiu o negócio do Bob.

O Bob acabou de montar um sebo de discos na zona leste, e tudo indica que vai muito bem. O negócio começou espontaneamente, quando um amigo ao se converter, lhe doou uma caixa de discos de vinil. A tradição na vizinhança é levar uma caixa para o Bob, tão logo isso aconteça.
A peregrinação ao sebo continuou com uma condição, desde que o nome fosse abençoado, e lembrasse a conversão do amigo ex-roqueiro, que levou sua primeira caixa de discos. Quem quiser conhecer Vinil de Batismo, é só chegar na Rua Armagedom, casa 7, fundos.

Maira Garcia

Boa ação, bom sinal.

Um celular se perdeu, para que alguém não se perdesse.