sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O B.O do vaso.

Vaso caiu do segundo andar. 
Quem desmaiou ganhou um galo. 
O síndico é suspeito, e o prédio inteiro está na DP e na TV.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Como saber?

- Pai, tem como saber quem eu sou por dentro? 
- Filho, o dia da descoberta, quero estar por perto. Agora, vê se dorme!

Cinzeiro acesso

Meu eu-lírico brigou comigo pra voltar depois do carnaval. 
Enquanto isso eu sambo.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Não ter preconceito
é aceitar a diferença
que sempre soma perante a sua presença.
A ansiedade sofre
 com o vício
 de esperar
 pelo fim
 desde o início.

Por 0.15 centavos

Na guerra mundial não declarada das palavras, 
o ponto final vem sendo usado como bala. 
-Por 0.15 centavos-

Andando sozinho

Uma roupa foi vista andando na Paulista.
Seu dono, isento de consumo, desesperado de tudo, ficou sozinho pelo Paraíso.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Relevar

Gostaria de ter levado comigo esta lição hoje:
Perdemos tempo demais com palavras de açoite.

Dia nascido

As lágrimas limpam os olhos felizes,
quando passamos de ano.

As nuvens em segredo,
no céu que cada um nasceu
fazem o mesmo.

Assim retribuo e agradeço todo apreço

domingo, 23 de fevereiro de 2014

O presente

Uma crítica sincera,
o infinito tem ideia,
é um presente.

O passado,
não recebeu tal iguaria,
ignora.

O que o presente
distraído pelo presente
não sente.

Todas as saudades

Não tirava o homem e seu nome da cabeça, há uns três anos, a paixão já pesava e trazia a angústia que torna o ar rarefeito, tirando o sono ao deitar os olhos no micro das micro ondas. Mais uma parte daqueles inúmeros dias que o coração quer sair do peito, e não tardava passar do esquerdo para o lado direito. E foi numa tarde justa, após ter ido ao salão fazer a unha e o pé, ali mesmo no bairro do Tatuapé, assim que saiu do shopping, que avistou um menino cinza, quieto, escondido entre as escadas da rodoviária, sentado como um monge sobre o cobertor rocamboleado, que ninguém percebia, a não ser a sorte de um olhar também angustiado.
Parou para ver até que seu olhos se tocassem e foi se aproximando até puxar assunto, com a delicadeza e o medo de não arrebentar nada. Não era habituada a falar com estranhos e a remota ideia de conversar com alguém daquela afiguração, nunca passou pelo seu pensamento.

- Posso falar com você?
- Pode.
- Você já almoçou?
- Sim. Comi já tem umas três horas.
Atrapalhada insiste:
- Você mora onde?
- Moça, eu moro na rua.
- Cadê seus pais?
- Morreram bêbados.
Algumas outras coisas ditas, muito pessoais ficarão em segredo,
e ele pergunta o nome estendendo
a mão para cumprimentá-la e assim se apresentam.
Ele diz seu nome, o mesmo nome do famigerado que corroía seu peito por dentro.
O garoto magro que ao se levantar se fez enormemente bonito, mesmo sem os dois dentes da frente,
beijou a mão da senhora em agradecimento.
Ele trazia metade da sua idade, e chorando foi encolhendo,
do um e noventa ao um e setenta,
e quando chegaram na mesma altura, ela lhe pediu um abraço,
que apertado, ajustado no encardido de um peito perfumado,
levou embora na despedida dos olhos molhados, todas as saudades.

Seguremos as outras mãos enquanto juntos escrevemos

Nos seguramos:
A pulsação não começou e já está lá.
 Seguro para ter a certeza do sangue correr até a mão esquentar.
Começa a temperatura a subir, a mão se ajeita e percebo
 a gentileza de não machucar.
Ajeito a outra mão ajeita, segurar é uma ação que respeita.
O suor começa a fazer efeito, a outra mão escreve
 enquanto a minha invertida prossegue,
 a que fica segura a outra que fica,
enquanto a outra também segue.
As mãos invertidas tentam não cansar a mesa
que se cansa na certeza de cansar,
mas a gente se ajeita.

Nos soltamos:
O cotovelo marcou, acho que o seu também,
 a mesa se ajeitou e me dou conta
do tempo que a mão escreveu.
 A temperatura ainda é alta, a respiração é baixa.
O lápis quer parar de escrever,
mas obedece o exercício.
Sinto o respirar do peito,
a pulsação mudou de lugar,
mas a mão e os dedos
correm para alcançar as mesmas linhas de cima.
O cansaço quer que eu pare,
a vontade quer que eu prossiga.
Ouço a respiração da outra mão que segurava a minha.
A vida que se apropria em poesia é viva, 
é sentida. 
Qualquer tentativa adversa, 
de fazer esse caminho, 
não é poema, 
é outra forma de arte.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Cacique pediu silêncio, com a chegada do vento:
 -O vento eu ouço, que o vento é de falar pouco.

O que realmente importa

Gosto muito mais das pessoas que se importam.
As que muito se gostam, muito pouco exportam,
uma vez que não saem de si.
O ar seco, 
de respirar dificuldade, 
a árvore sentiu falta da humildade.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Des-apaixonar

Como chegou, você foi.
Foi ficando menos bonito aqui dentro.
E sem a beleza você se assustou,
e saiu correndo.

Malcriado

O calo se retira,
 mas precisa rever como pisa e o tipo do calçado, 
que o calo é malcriado.

Choronas

As nuvens que tropeçam na serra do Mar,
são aquelas que choram antes de chegar na praia.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A lotação, o aperto, o tumulto, nos mostram
que mesmo sem afinidade ou escolha,
estamos todos juntos.

Caixas de som

Amor por escrito usou a caixa baixa,
pois quando feito em caixa alta,
acordou a vizinhança.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Haydn

Tenho um quarteto de cordas no peito,
e quando tocam,
eu não me deito.

E o Sol percebe o desumano.

O Sol voltou de férias antes do carnaval, como muita gente fez, e vai dormir com alguns brasileiros mais cedo, mas ficou chateado de saber que esquentou tanto pra poupar energia que agora pode faltar água. 
-É desumano. Confidenciou para as nuvens, que em solidariedade resolveram chover.

A melhor visita

O perdão aparece sem avisar,
 reconhecer exige o coração desperto, 
para assimilar sempre leva um tempo.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Reparação de vírgulas

As vírgulas que tanto repara,
sem reticências e aspas,
guardava nas mãos as leituras das suas cartas.

Esperando pelo beijo

Os beijos aguardam pelos olhos,
que se demoram,
vertem saliva,
se não chegam,
tomam água.

Os olhos molham
e os beijos dessecam
 na espera como um deserto.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Santa ciumeira

Santo Antonio sumiu da paróquia quando chegou Santo Valentino.
Não queria fazer sala pra santo casamenteiro de gringo.

Eu me rendo

Eu me rendo a todas as rendas feitas
e desfeitas, eu me rendo.
Aos teares dos altares, eu me rendo.
As rendas das redes dos mares,
eu me rendo.
As rendeiras e seus fios que cobrem
os tecidos, aos pelos tingidos
pelos arrepios,
que no fundo das redes
das rendas,
é a pele da gente que deixa
o fio passeado, ajustado nos nós
e nos laços, o trançado
mais bonito.
Sem uma gota de luz,
 os raios riscam o céu, 
arrancando das nuvens o resto das vestes da Lua.

A estória que a chuva conta

A chuva deslavada,
 pede para ouvirmos as estórias mudas
 que nos conta aos pingos.

Uma na outra

A palma da mão é desnuda,
 ao segurar outra mão, 
uma vida que pulsa que não é sua.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Com a canção no fundo

Que possamos lembrar de não esquecer.
Para Geraldo Vandré, eu e você.

Sozinho na praça

O mendigo deu pela ausência do amigo, 
subiu no banco a gritar: 
- Este mundo está perdido de gente querendo se encontrar!

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

As grandes obras são aquelas que respiram

As grandes_ grandes As
obras                    obras
são                        são
aquelas                aquelas
Que respiramrespiram Que

Com a carinha da Vila

As ruas e a rima entregam 
que a Vila Mariana é mãe da Vila Madalena.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

 Não me admira de quem mira as sobras, 
me espanta o quanto fingem 
refletirem seu brilho,
não vendo
atrás de si as sombras.


sábado, 8 de fevereiro de 2014

O descanso do brinquedo

Agora estou no lugar onde deveria estar,
se tivessem me deixado ficar aqui,
não teria sofrido,
me sinto melhor assim,
que no alto da estante as crianças
não vão mais quebrar minhas partes.
Só depois que se enjoaram de mim
foi que eu virei obra de arte.

Congratulações

Recebi suas palavras embrulhadas para presente.
Meu beijo com o vento, deve ter chegado agora, volte sempre.

Ela recebeu a cantada mais bonita de todos os tempos


Segurou a senhorinha pelos ouvidos,
que se tivessem conhecido antes,
teriam se casado, sem a juventude 
que cega os sentidos.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Piscava e não sabia se fechava
 o direito ou o esquerdo,
 até que aprendeu,
fechou os olhos e ganhou um beijo.

Desde o início

Negar o direito à informação
é a covardia mais antiga que se tem notícia.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

As gotas que correm quase juntas

As lágrimas correm mais que os gotejos da chuva,
concorrem, mas chegam quase juntas.
A boca bicuda e os olhos contraem,
 dos olhos das águas que saem.

O sal no céu o Sol que sai,
as lágrimas e as gotas,
encharcam as roupas,
pela água doce que cai.
De esperar encher até boiar a boca,
de deixar a água
molhar o bico,
e chegar nas margens,
e a gente levantar
de tirar a roupa.

Aos cuidados de Alvaro de Campos

As cartas de amor são ridículas
quando relidas por outras vistas.
Os papéis ficam vermelhos e não raro, se queimam.

Salivares

Eis que os derretidos ressurgem,
na medida que somem os pares
em plena luz do aquecimento dos dias.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

A demora não sabe,
se um dia seu dia vem.

Esqueceu na certeza
que a surpresa é doce,
e esse doce
não faz mal a ninguém.

O unguento

Sem você eu não aguento,
quem vai soprar meu ferimento?

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Recolhendo antes que o tempo mude

As nuvens contavam estórias,
mudada a trajetória,
presenciavam.
Foram
os de lá embaixo que contavam,
mas antes que se emocionassem
com o que desaparecia,
levaram para dentro da caverna
a história que chovia.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Beijo demorado

Beijo demorado, beijo esquecido, beijo embebido, beijo suspirado, beijo com gemido, beijo de olho fechado, beijo mordido, beijo de rosto, beijo com desgosto, beijo proibido, beijo de traição, beijo de irmão, beijo doce, beijo salgado, beijo mastigado, beijo que olha de lado, beijo vesgo, beijo cego, beijo de barraca de beijo, beijo de banguela, beijo de estátua, beijo de mão, beijo que dá no pé, beijo de situação. 
Beijo demorado, beijemos então!

Ménage à trois

Ele vem ler o que eu escrevo, vem sentir meu cheiro,
se inspira e escreve seu amor pra ela.
Ela percebe meu perfume,
vem ler o que eu escrevo
e melhor lhe escreve,
aquilo que enleva.
Ela depois cisma, e com minhas letras se aborrece.
E sendo mulher, sem se ver machista,
lhe protege.
Ele prefere
todas posições menos feministas,
mas é ela quem sofre
e não percebe,
que no meio de tantas palavras,
ele se acha, encaixa,
e ainda por cima, se diverte.

Ménage à trois nem sempre quer dizer sacanagem,
aqui vem e leem aquilo que lhes prouver,
rendo aos poetas e todos os escrivinhadores
que ajudam os amantes,
minha singela homenagem, pois
todos temos um pouco de Cyrano de Bergerac.


Maira Garcia

Foto de Carlos HonoratoTeixeira


O passeio do-eu

O meu eu foi sem mim, algo me diz que foi melhor assim.