o beijo,
um mal educado
que interrompe conversa.
Poesia, textos e todas expressões que surgirem para partilhar, sempre depois que a Lua me tocar.
terça-feira, 28 de junho de 2022
É feio se dizer dono de palavra
Talvez uma metáfora inusitada
isso valha.
Ninguém briga por pronome
e advérbio
um pouco se faz com adjetivo
mas por substantivo é algo sério
Quando me lembro
publicitária
vejo palavra por moeda
virar marca
esse ser imemorial
indo à praça
Por isso digo
é feio se dizer
dono de palavra
Mas não sou dona da palavra
quiçá um adereço dela
Mesmo porquê é preciso muito dinheiro pra comprar um dicionário
26 de junho de 2022
O céu não se repete
mesmo depois de limpo,
nem quando
o Sol nasce e dorme.
Porque o azul,
que é mais exibido,
carrega matizes
que mudam conforme a estação.
O céu carregado de nuvens,
exibe um degradê
que vai descarregando água,
independente da cor.
Tem dia que se esconde
tanto esse céu,
que ninguém sabe
se é dia de chegada
ou despedida.
26 de junho de 2022
Descobri que uma água de colônia Giovana Baby combina com a amostra de perfume caro Dolce & Gabbana que ganhei de um amigo que foi embora tem uns anos.
Passo a água de colônia e finalizo
com rastros do perfume.
Lembro do dia que me deu a amostra, explicando que era o mais caro, vendido no seu trabalho, antes da gente pegar o trem.
Eu agradeci enquanto sentávamos nos bancos que por sorte nos esperavam.
O perfume não vinagrou,
mantém o mesmo cheiro.
E ao misturar colônia com perfume, criei um feitiço de voltar ao trem com meu amigo.
24 de junho de 2022
Estava sem paciência,
me falaram pra pegar
um grão de feijão
molhar no algodão
e deixá-lo dormir.
O tempo passou pouco
e a pele do grão ficou
enrugada.
O grão pegou segurança
e se abriu como uma flor
num caule tímido.
Mas esqueci de colocar água
e o pé-de-feijão
morreu de abandono.
Tornei a pegar outro
e outro,
e outro.
Dosei a água no olho.
Aprendi a deixar o pé crescer.
Esquecendo por que
comecei a fazer isso.
Mas pra contar eu me lembro bem.
20 de junho de 2020
sábado, 18 de junho de 2022
quinta-feira, 16 de junho de 2022
O grupo do zap
Era um grupo de WhatsApp de bom dia, boa tarde, boa noite, para bens pra você. Pessoas reunidas por terem estudado juntas, pessoas polidas pelo silêncio costumaz. Mas bastou uma postagem política, depois uma leve ironia, uma resposta cabulosa, com palavrões impronunciáveis do Oiapoque ao Chuí e o grupo bom dia, boa tarde, boa noite, para bens pra você foi dando tchau silencioso. Fulana que só lia saiu, fulano que só estava por causa de crush saiu, fulane que estava pelos velhos tempos saiu, fulano que gostava de bom dia boa tarde boa noite para bens saiu. Só ficou a saudade.
14 de junho de 2022
Minha vó tinha
uma cadeira de varanda
pra ver a rua, revezava com meu avô.
Galegos de um povoado,
campesinos,
aqui moravam
numa avenida movimentada.
Criança não ousava sentar naquela cadeira,
por respeito, pois não havia proibição.
Eu ficava na janela da sala, atrás da cortina pra olhar quem passava na outra calçada
usando a imaginação.
Treino para o que veria
sentada no trem que corta
em paralelo a mesma avenida,
para depois olhar casas parecidas
onde avós sentavam na varanda
esquecendo da cidade de onde vinham.
10 de junho de 2022
A pessoa que não sabe
se é correspondida
é feliz.
E vai sem modos a imaginar
o impossível.
Porque no seu mundo
tudo é possibilidade.
Porque um olhar
pra ela
e já é pedido
de casamento.
Porque não precisa se consumar nada.
E não se ouve lamento.
Porque a vida é difícil,
mas pra pessoa que não sabe se é amada
a vida é delícia.
9 de junho de 2020
terça-feira, 7 de junho de 2022
No zoológico a conversa que mais lembro
da infância é a dos gansos.
Eram os que falavam mais alto.
De olhos fechados enxergava gestos,
imaginava expressões que só em desenho animado teriam.
Ao abrir os olhos uns até voavam para perto.
Basta um parque e um lago
para eu ouvir gansos que gesticulam
de tanto que conversam.
Tem quem tenha a inveja por gosto,
goste de provocar.
Por isso os medos da inveja
como se fosse coisa perigosa.
Então os que se guardam.
Os que se sentem vítimas
como se fosse a protagonista de suas vidas,
uma colocação injusta pois a situam acima de si.
Num mundo onde a inveja também faz moeda,
fica difícil desviar, fingir que não viu.
Conhecer-se pode resolver o dilema,
usá-la como bússola
pendendo com o livre arbítrio
vendo até onde se é liberto
ou escravo desse vício.
A inveja como virtude só se for pra causar melhoria,
um reparo cauteloso na tal reforma íntima.
Ontem eu tentei pular um muro
e descubro que há muito não fazia isso.
Ganhei um cotovelo ralado
pra lembrar de um corpo
que ainda pede cuidado.
Ontem pulei o muro pra entrar num terreno
que quer ser vendido
a pretexto de ver
um sol que será escondido.
Mas fui eu que me escondi
entre suas árvores
a procura de qual delas risquei numa tarde,
o seu nome, e você o meu,
pra ser coberto
pelo tempo e pelas casas que não moraremos.
6 de junho de 2021
A pessoa que vai embora
não leva um cômodo da casa.
As roupas é que pegaram a estrada.
A pessoa que vai embora
não leva a comida preferida,
a planta que regava,
a música que ouvia.
Não leva porque vai viver
em outra morada,
que quando chega,
na hora certa,
tem festa,
com tudo que ela gosta,
à sua espera.
Enquanto a casa antiga se recupera
em nova paisagem.
6 de junho de 2021
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