segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Danço sozinha,
até o dia que os pés
encontrarem
um par
de sapatos
que dancem
sozinhos.
Enquanto isso,
tropeço
nos meus
próprios dedos,
rodopio na sala,
e finjo sanidade.
Danço sozinha
na pista,
danço sozinha
para acreditar
que para todo sempre
não existe solidão.
Escrevo porque preciso por pra fora este dentro que carrego comigo.
Escrevo porque não tem outro jeito.
Escrevo porque desejo um retorno, mas não busco o eco, não quero falar sozinha.
Escrevo para chamar atenção num meio onde todo mundo grita, e as pessoas andam roucas. 
Mesmo assim escrevo.
O meio do dia 
não tem nem 
a metade 
que queria,
mas tem um 
começo.
Tenho reparado ultimamente que estamos vivendo um tempo de pouco diálogo, onde as pessoas tem precisado falar mais do que ouvir. A nós cabe uma boa dose de paciência quando isso acontece, o que não deixa de ser uma caridade. Muitas vezes uma das partes só quer falar, a outra cabe ouvir até que o falante se canse. Aí, você, como bom ouvidor, fez a sua parte. Num outro dia, você que também faz parte deste fluxo louco que tem se tornado nossas vidas, pode ser o falante da vez, precisando de um ouvido caridoso. Pense nisso.
Sonha com algo.
E na hora 
que surge
não é o que 
se esperava.
Então olha
como se fosse
a primeira vez,
e cala.
Mesmo que nada
aconteça,
que você apareça
com sua felicidade,
que deixa a minha 
com saudade.
Apareça pra um café,
uma volta no parque,
um cinema
sem qualquer intenção,
aquele abraço covarde.
Mas apareça,
porque beijo
não te peço,
só quero sua presença,
e que não esqueça
deste verso.

sábado, 26 de agosto de 2017

O olho
quando gosta
Encara, foge,
finge
se fecha.
Depois guarda o olho
no peito consigo,
e fica lembrando do olho
olhado, e tanto fica
que envesga.
Encontrei um livro
de páginas duras,
é certo que depois
de um
banho foi deixado ao Sol. 
As páginas estão unidas,
as letras apertadas,
é preciso que venha
a mão e abra.
Um livro afogado de água
melhora quando os olhos
se deitam com ele,
as palavras umedecem
e o livro que morria,
enfim respira e agradece.
Ontem, no sarau, tinha uma menina de 10 anos, chamada Joana, sentada numa cadeira olhando pra rua. Do nada ela disse: "Hoje estou muito feliz!" 
E perguntei: "Qual o motivo?" Ela disse:"Estou feliz porque minha vida é perfeita!"
O passado passa bem pois o futuro já passou 
e o presente não está 
nem aí.
Poesia dizem
ser coisa
sofisticada,
mas na boca
de gente humilde
encontra sua casa.
Tem horas
que tudo que 
a gente precisa 
é um sinal.
Sinal na perna,
sinal de luz,
sinal de trânsito,
sinal na boca,
sinal dos tempos.
Sina.
Enquanto ele vende a Amazônia, a Telebrás, e a Casa da Moeda, você se distrai com boato de zapzap.
Depois que você torce muito o pé aprende que precisa olhar sempre pro chão. Não dá pra adivinhar onde pisa.
Entardece
pra gente comprar 
o horizonte
com os olhos.
Lembrei da gente no trem.
O seu ponto já tinha passado
quatro estações.
Descemos.
Teve abraço.
Teve olho no olho,
mas não teve beijo.
Era tarde, e você quis seguir até o ponto final, ao invés de voltar pra sua casa.
Disse que ia pensar na vida.
Eu segui sem entender nada, até o meu destino.
Você seguiu o seu.
Parece que foi assim.
Queria saber a sua versão de mim.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Os que gostam de alguém
adoram coincidências,
mas coincidências são apenas
coincidências.
Um vírus, e você se desculpa sem ter culpa
de ter pego.
Vírus é cheio de castigo e desprezo,
dá a sensação de ter feito
algo proibido que mereça
penalidade,
mas não é de verdade.
Vírus faz mal pra paranóia,
pega em quem não olha
o que não se vê.
Se receber um vídeo, ou link por inbox não clique, ok?
A poesia precisa de surpresa
O amor 
que tudo oferece,
é pra quem
pode dar.
É do querer voltar
a gostar.
Então digamos
o que não é mais.
E a história é encerrada.
Se um dia o coração
esquecer
a falta de apreço,
digamos que
temos recomeço.
Se todo instante fosse este, você seria o instante.
A cintura marcava,
o peso apenas um pretexto que crescia. O espelho gostava do que via. Pra quê perder medidas? Já a outra o sobrepeso não ajudava, ficava disforme, sem brilho e cor na comida, e ainda por cima, o sangue manchava de colesterol. Enquanto uma não sofria, a outra agonizava na cinta. Enquanto uma se achava bonita, a outra acinzentava, e só sossegou e se gostou quando ficou magra. Cada qual em sua beleza, mas a gorda era a mais feliz por natureza.
Deixar de gostar,
é como deixar a bolsa em algum lugar e não ligar de deixar.
Abençoados os chatos que nos mostram que também somos chatos. Eu ouvi amém?
O possível é que faz falta,
o impossível 
nem se nota.
Não era a primeira vez que tinha visto aquele senhor. Tive a impressão que pudesse ser louco. Hoje vi que ele parou um homem para perguntar em voz alta:
"Você poderia me ajudar?" "Claro! O que o senhor precisa?" "Me diga o que é utopia?" Não fiquei para ouvir a resposta. Cheguei a ver o homem que ele parou sorrindo ao longe, mas fui embora com a pergunta mais inteligente dos últimos tempos ouvida na rua.
não beba depois do sexo,
não coma depois do sexo,
não fume depois do sexo,
não suma depois do sexo,
não morra depois do sexo,
não corra depois do sexo,
não durma depois do sexo,
não pule depois do sexo,
vire de lado, disfarce, discretamente puxe
o livro que você deixou cair embaixo da cama,
lá está escrito que você não bebeu depois do sexo,
não comeu depois do sexo,
não fumou depois do sexo,
não sumiu depois do sexo,
não morreu depois do sexo,
não correu depois do sexo,
não durmiu depois do sexo,
não pulou depois do sexo,
nem sentiu um vazio.
olha, isto pode ser um sinal.
Dia de chuva é feito pra fazer festa quando for dia de Sol.
O direito à vida
é certo quando se respira,
a morte não tem direito
nem segurando 
a respiração,
a vida não termina quando
a respiração para.
Segundo a lei,
mas lei pra vida não conta.
As folhas correm na calçada, fogem da chuva.
e antes de cair 
e depois que cai,
e antes de crescer,
e depois que cresce.
A flor.

domingo, 13 de agosto de 2017

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Ele é bonito,
pois finge bem
que não é.
Finge que não é comigo,
é com todo mundo
o carisma que traz solto no rosto.
Ele é bonito,
pois finge bem
que a roupa foi
displicente escolhida.
Finge que não é comigo,
fala com todo mundo
com o mesmo carinho.
Ele é bonito,
pois finge que o perfume
não é dele, é misturado com abraços.
Ele é bonito,
pois eu me vejo nele.
Para dois livros e um caderno que perdi ontem.
Torce o pé,
mochila pesada,
tira os livros e o caderno de espiral pequeno de dentro,
esvazia um pouco,
depois perde os livros e o caderno
num dos bancos que sentou
no trajeto, tantos bancos que
nem lembra mais,
mas não perde a mania
de tentar uma forma
de levar consigo
os sonhos.
Ainda dói o calcanhar,
sente o dó da perda,
mas espera que
quem achou pelo
menos leia os livros e o caderno,
que valiam o peso,
a torção do pé
e todo o resto.
Ela nem gostava de loiro, mas um tipo alemão Hilbert estava na fila da lotérica, atrás dela, quatro pessoas.
"Próximo!" Ela jogou as moedas no guichê. A moça do caixa depois de contar, perguntou: 
"Fala um número, faltou um!"
"34!" Ela disse. 
Ao sair da lotérica, o alemão que ainda estava na fila falou alto: 
"Eu também joguei no 34!"
Ela chegou perto e soltou: "Boa sorte!" E saiu aborrecida por não ter tido a coragem de falar:
"Me dá seu número?"
O que eu sinto
é tão intenso,
Penso
que não amo,
amor não tem
nada a ver
com isso.
Um dedo de azul borra a boca do dia 
que saliva pedindo
água.
Eu podia estar roubando, mas estou aqui esperando um beijo seu.
A Lua ficou amarela, 
pra ninguém esquecer dela.
Caminhei em direção à Lua, e ela parada,
não entendeu nada.
Céu sem nuvem,
Sol sem sombra 
de dúvida
Viver é estranho, incompreensível, mas é insuportavelmente interessante.
Svetlana Alexievich
Você vai achar que este poema
eu fiz pra você,
eu sei.
Mas este nem poema é,
é um anúncio de páginas amarelas
feito pra chamar atenção pras coisas belas.

Com a cabeça cheia,
as palavras saem esmagadas.
O povo tem levado na carne, no bolso, na dignidade e não faz nada!
A droga que nos deram foi muito pesada.
Cai sem cerimônia,
mas abençoa, chuva!
"Se Deus quiser" depende do seu livre-arbítrio.
Românticos guardam frases, olhares, gestos, músicas, pequenos papéis de Beatriz Milhazes
em guardanapos escritos com número de telefone que nem existe mais.
São tão antigos, que românticos podem ser encontrados quase vivos nos quadros e estátuas dos museus.
Quando encontrar um romântico na rua, que é raro, faça três pedidos.
Se você quiser ser caridoso, faça um para o romântico deixar de ser bobo
e ser feliz.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Aquele tracinho azul do whats app é culpado pela ansiedade do mundo. A pílula azul é culpada pela ansiedade do mundo. O céu azul é culpado pela ansiedade do mundo. A caneta azul é culpada pela ansiedade do mundo. O olho azul é culpado pela ansiedade do mundo. A baleia azul é culpada pela ansiedade do mundo. O jeans azul é culpado pela ansiedade do mundo. O cabelo azul é culpado pela ansiedade do mundo. Um planeta azul é culpado pela ansiedade do mundo.

Maira Garcia
Busco um pouco de Sol
na janela, esse que ainda esquenta às quatro horas.
E um pouco de
conversa aqui dentro.
Meu corpo reconhece
o calor que ainda toca minhas costas às quatro horas de um Sol de inverno,
massageando meu ego
e o meu silêncio.
Românticos guardam frases, olhares, gestos, músicas, pequenos papéis de Beatriz Milhazes
em guardanapos escritos com número de telefone que nem existe mais.

São tão antigos, que românticos podem ser encontrados  quase vivos nos quadros e estátuas dos museus.

Quando encontrar um romântico na rua, que é raro, faça três pedidos.

Se você quiser ser caridoso, faça um para o romântico deixar de ser bobo

e ser feliz.