segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

 


Reza e dorme.


Por um momento

o mundo volta a ser 

o que queremos.


"O mundo volta a ser o que queremos" é frase da boca do escritor Hilton Lúcio. 

domingo, 27 de fevereiro de 2022

 


Como o tempo. 

Limpo os dentes

com os ponteiros. 

27 de fevereiro de 2018 no facebook

 Passado,

o lugar que parece

estamos voltando.

27 de fevereiro de 2019

A mãe de uma amiga

me disse um dia
que amor era tempo de alegria.
Uma história comedida,
de poucos dramas.
A frase da mãe da minha amiga
me lembrou uma outra senhora
que um dia me disse
que para se fazer amar se reserva
os problemas,
depois é que se mostra.
Parece que é preciso tempo
para gostar dos problemas.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Na feira, parei na barraca do paneleiro que olhava as panelas que chegavam e era categórico:
 "Esta gambiarra aqui não podia ter, vai explodir sua panela de pressão!" 
E chegava outro cliente: 
"Você gosta de explosão porque com esta aqui vai explodir de novo sua cozinha!" 
Antes de ir embora ouvi: 
"O povo quer a tampa da panela mas não cuida nem da que está na própria cozinha!" 

 23 de fevereiro de 2021, no facebook

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Você se aproxima,

me afasto,
Você se afasta,
eu avanço.
Não temos nada sério,
por enquanto
é um bolero.

23 de fevereiro de 2020

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Escrevo poema de prima,

às vezes arrumo,

outras apago.
Poucas vezes reescrevo,
numa visita nova,
algo se despede,
uma palavra, um traço.
(algo que me esqueço)
Para fazer o poema
me socorro na poesia,
porque pra mim um poema já vem pronto
e a poesia precisa do apuro
do inacabado.
E o poema
foge do ponto,
assunto encerrado.

domingo, 20 de fevereiro de 2022


À Posteridade (Bertolt Bretcht)
I
Não há dúvida que vivo numa idade escura!
Uma palavra sem malícia é um absurdo.
Uma fronte suave
Revela um coração duro.
Aquele que está rindo
Ainda não escutou
As terríveis notícias.
Ah, que tempo é este
Em que falar de árvores é quase um crime
Por ser de certo modo silenciar sobre injustiças!
E aquele que tranquilamente atravessa a rua
Não está fora do alcance de seus amigos
Em perigo?
É verdade: ganho minha vida
Mas, palavra de honra, é só por acidente.
Nada que eu faço me dá direito a meu pão.
Por acaso fui poupado: se minha sorte me abandona
Estou perdido.
Há quem me diga: come e bebe. Dá-te por satisfeito
Mas como é que posso comer e beber
Se meu pão foi arrebatado aos famintos
E meu copo d'água pertence aos sedentos?
E mesmo assim como e bebo.
Gostaria de ser sábio.
Os livros antigos nos informam o que é sabedoria:
Evita os embates do mundo, vive tua curta vida
Sem temer ninguém
Sem recorrer à violência
Pagando o mal com o bem -
Não a satisfação do desejo mas o alheamento
Passa por sabedoria.
Eu não posso fazer nada disso:
Não há dúvida que vivo numa idade escura!
II
Cheguei às cidades num tempo de desordem
Quando a fome imperava.
Cheguei entre os homens num tempo de levante
E com eles revoltei-me.
E assim passou-se o tempo
Que me foi dado sobre a terra.
Comi meu pão entre massacres.
A sombra do assassínio pairou sobre meu sono
E nas vezes que amei, amei com indiferença.
Considerei minha natureza com impaciência.
E assim passou-se o tempo
Que me foi dado sobre a terra.
No meu tempo as ruas conduziam à fama gulosa
O que eu dizia me atraiçoava ao carrasco.
Pouca coisa podia fazer. Porém sem mim
Os dominantes ter-se-iam sentido mais seguros.
Pelo menos era essa a minha esperança.
E assim passou-se o tempo
Que me foi dado sobre a terra.
Pequena era a força dos homens.
O objetivo
Ficava muito longe.
Fácil de ver, embora para mim
Quase inatingível.
E assim passou-se o tempo
Que me foi dado sobre a terra.
III
Vós que emergireis deste dilúvio
Em que nos afundamos
Pensai -
Quando falardes em nossas fraquezas -
Também na idade escura
Que lhes deu origem.
Pois assim passamos, mudando de país como de sapatos
Na luta de classes, desesperando
Quando só havia injustiça e nenhuma resistência.
Pois sabíamos até bem demais
O próprio ódio da imundície
Faz a fronte ficar severa.
A própria raiva contra a injustiça
Faz a voz ficar áspera.
Ai de nós, nós que
Queríamos lançar as bases da bondade
Não pudemos nós mesmos ser bondosos
Mas vós, quando afinal acontecer
Que o homem possa ajudar seu próximo
Não nos julgueis
Com muita severidade...
(Tradução de Mário Faustino)

sábado, 19 de fevereiro de 2022

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Um instante é eternidade,

eternidade é o agora.

Quando vês através desse mesmo instante,

vês através daquele que vê.

Wu-Men

Despedir-se,

pedir para ir

na esperança de voltar.

17 de fevereiro de 2018

 

17 de fevereiro de 2019

Depois da chuva
que eu peguei
achei graça da goteira
que me encontrou pela casa.
Ela me provocava
mais do que as palavras.
Escorria no cabelo,
passava pela boca
e parava no peito.

 


Antes da chuva,
quando o Sol se envergonha
e não quer
criar um clima,
o céu se vira
e cai
do beliche.

17 de fevereiro de 2021

Três borboletas amarelas

conversam em labaredas suspensas.

17 de fevereiro de 2018

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

multiplica

divide

soma 

e não subtrai


a vida implica

nas contas

não se distrai

 

Se eu pudesse só faria poemas sem rimas.
As rimas são irresistíveis,
nascem bem antes,
estão latentes a quem não se utiliza de dicionário de rimas,
que descobri muito tardiamente que existem.
Versos sem rimas têm o sopro
que não termina com o ponto final,
têm o abrir espantado dos olhos,
o tocar da mão no coração do peito,
do incorreto pelo certo.
Versos com rima são belos,
trazem o aviso do lado direito
e esquerdo do cérebro,
e como a história termina.
Acho mais difícil versos sem rima.
16 de fevereiro de 2019

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022


Quais são a desfazer uma cisma, senão anjos?

A arte faz um tanto,

a prosa nos separa,

mas vem a poesia e junta tudo.

 Não há nada que nos aproxime tanto


quanto um desafino.


Leia poesia
sem querer entender
o que o poeta
leva na bacia.
Às vezes leva frutas impossíveis
que não posso provar de tão caras.
Leia poesia
como se não fosse
leitor de poesia.
Como se não fosse poeta.
Como se fosse leitor da palavra que se descobre no primeiro juntar das letras.

Do meu livro 'Antes do sol de amanhã',
pela Editora Patuá

Foto celular - Maira Garcia

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Uma caneta esferográfica
pode estourar por causa da alta temperatura
ou da sujeira impregnada em sua ponta.
Esquecer em lugar quente,
parar de usá-la ao ponto de sujar
onde desliza no papel
e pronto,
a perdemos de vez.
Aí é cuidar pra não manchar o entorno,
ou ver as marcas do descuido.
As canetas costumam ser deixadas em algum lugar,
emprestadas e esquecidas, quando baratas.
Tem quem não lhes dê a importância.
As caras são guardadas nos melhores lugares, até em caixas.
Em uso respiram junto de quem as comanda.
Desconfio que paradas não respiram e assim estouram,
rompem seu desenho.
Felizes são as canetas que param de serem usadas
porque não têm mais tinta.
Estas aborrecem as mãos no risco apagado,
mas cumprem o seu destino.

 

Hoje eu felicitei alguns
amigos pelo dia do amigo.
Ainda bem que parei,
hoje é dia do Valentine's day.

sábado, 12 de fevereiro de 2022

 

Ler os versos mais lindos,
inibe outros versos.
O que surge depois,
sussurra escondido.
Sem a pretensão de fazer bonito.

 

Um céu azul
faz qualquer lugar
ao longe
bonito.
Daí chamarem de paraíso.

 


O olho verde na frente, o rabo suspenso atrás, o pelo da cor da calçada. Foi se aproximando da esquina, peguei o celular pra fazer uma foto, recolheu os olhos, deu as costas pra mim e seu rabo me deu tchau.


12 de fevereiro de 2019

 


"Doutor, me diz o que ela tem? Anda amuada, cansada demais, e nem abre a boca!"
"Quando isso acontece?'
"Depois que ela fica no celular!"
"Não é nada grave, a mocinha está padecendo de desconhecimento!"
"Como assim?"
"Anda lendo informações desencontradas!"
Acena com a cabeça que sim.
"O que o senhor recomenda?"
"Ficar uns dias sem face e nada de voltar a acessar o WhatsApp!"

12 de fevereiro de 2019

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

 


Encontrei um amigo
poeta,
num dado momento
da conversa,
não sabíamos
dizer
que dia era.
7 de fevereiro de 2019

sábado, 5 de fevereiro de 2022

Para lavar meias é preciso enrolar

uma na outra antes de colocar
na lavadora de roupas,
ou dentro de um saquinho de pano.
Se for lavar na mão, ou na máquina,
imediatamente colocar uma junto
a outra no varal.
Não se sabe explicar,
mas do contrário,
muitas se separam.
Ninguém mais faz o par.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

 

Escrevo quando o tempo me atravessa.

 

É difícil cair chuva fina:
pequenas gotículas
que umedecem
a roupa por cima
num espirro de água.
É tão difícil chuva fina,
que as pessoas nem reparam.
3 de fevereiro de 2018

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

 Todo dia primeiro é janeiro reavivando alguma promessa de felicidade.

Porque pra mim é sexta feira,

um fevereiro de 2020. 

Comprei nesse dia, assinalado na agenda, uma camiseta com a Marilyn usando um lenço vermelho Zapatista. 


Naquele tempo, eu amava e era correspondida em algum lugar do mundo, nos acessos do meu blog.

Desconfio, se não for um robô, que seja alguém da América de cima, que usa um IPhone de onde surgem acessos extraordinários a partir das 5 da manhã, hora do Brasil.


Naquela sexta-feira, o vento batia no meu rosto num beijo longo.


Tomei no fim do dia, uma média com bolo de laranja num café lotado.


No lugar as cadeiras eram disputadas, ao sentar formavam-se grupos a esmo. Muita gente ao acaso do silêncio.


Naquela sexta, peguei um trem cheio, pessoas cansadas, mal sabiam, donas de um tempo que se repete porque se intenciona viver.

 

Na infância, ouvia:
'El día que me quieras'
e ficava indignada.
Entendia no espanhol,
que não dominava
uma história as voltas com uma rosa 'enganada'.
Achava triste ao ouvir
aquela parte e pensava:
Quem podia enganar uma rosa,
uma rosa que pergunta quem a queira?
Depois soube que de fato era
'la rosa que engalana',
a que enfeita.
E que não havia uma pergunta,
mas uma promessa de beleza.
Mas já era tarde,
a cabeça guardou o engano
e a história da pergunta para sempre.