quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

 

Perto do fim do ano encontrei vários relógios
de pulso
parados na gaveta.
Cada um parara num horário.
De manhã, a tarde e a noite.
Não acredito que tenham parado
de madrugada.
Pois estes dormiam.
Exceto um deles cujo ponteiro
dos segundos
estava solto.
Fiquei um tempo olhando
o ponteiro que pelo visto correra mais
e atropelara o mostrador e dançava
ao mover a peça.
Esse que soltou os segundos, resolvi levar pra consertar,
vou chamá-lo pelo nome 'ano que vem'.

 

Mesmo que a vida tenha informação demais.
O corpo sabe o que fazer pra não apagar.
Não confia na cabeça,
guarda no coração.

 

Esfregaram o céu
e saiu a Lua.

18 de dezembro de 2021

 

Desejar boa sorte em silêncio
a quem teima
não nos querer
bem
é um jeito.
A boa sorte que distrai
amolece
e o melhor acontece.
Tem que treinar em silêncio.
O perdão mesmo sem a sinceridade
de início,
é exercício
de um dia ser.
18 de dezembro de 2017

sábado, 18 de dezembro de 2021

 

O mar e o rio
se repetem na terra,
mesmo sem água.
Repara
a saudade.

 

A borboleta verde,
que só consegue aparecer
na cidade.
Que no mato
fica transparente,
nem os bichos compreendem.
A borboleta verde
é a mais longeva.
Invisível sobrevive.

 

Tem mais quem goste
de se apaixonar,
eu gosto dos intervalos,
dos respiros de quem desce o morro.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

 

Os reflexos dos vidros na cidade

são saudades impressas por pessoas.

 

Na minha pesquisa do olhar, verde é a cor mais pintada das lojas e das casas.

Se eu estiver certa, suspeito que seja a nossa vontade de floresta.

Escondido no meio

das pessoas,
o nome não sai da boca,
nem no aperto de mãos.
Espero a combinação
de vogais e consoantes.
Algum apelido.
Nome de batismo.
Feio ou bonito.
Posso vir a perguntar mais de uma vez
pra memorizar.
Ou nem precise.
Mas vou reler o que escrevi
pra lembrar que um mundo já existia.

 

Dezembro,
o mês mais veloz
de todos os tempos.

 

Uma árvore plantada no trem.

Miniatura do que viria a ser,

sonhou que era nuvem
e que molhava as sementes,
e as plantas cresciam.
Acordou árvore.

13 de dezembro de 2017

 

Das lições que mais repito
é a pontuação.
Aprendo e esqueço,
desaprendo quando evito.
Pontuar como respiro
é sempre uma questão.
Esqueço as regras,
quando penso no pulmão.

 

O carro do ovo não tem mais dia
e nem hora
pra passar.
Tal como esses dias
que nem mais aborrece
barulho que não quer se ouvir.
Porque o carro do ovo pronuncia
a vontade da vida
que gira em torno do trabalho
do ovo e da comida.

13 de novembro de 2021

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

domingo, 12 de dezembro de 2021

 

A cidade que não silencia
nem quando as pessoas dormem
Cachorros a noite dialogam
histórias incompreensivas
Traduzem os sonhos dos donos
Se um ladrão aparece
ninguém nota o entorno

 

A Marylin mudara os olhos
mais do que o rosto,
desde Norma Jean.
Mas o nariz, a boca e o cabelo
falavam mais do que os apelos
que passaram desapercebidos
aos ouvidos.

 

Os olhos puxados
estão abertos
o necessário.

12 de dezembro de 2018

 

Não dá pra escrever
tudo que vem.
O que vem às vezes
não quer chegar.
Sozinho se entende.

Dar corda

O gesso estava no braço da bailarina da caixinha de música. Ela podia continuar dançando. O pé pontudo girava rápido, mas a coragem de se exibir tinha ido embora com o osso quebrado por dentro. Mesmo sendo de louça, acreditava que o possuía, e passou a dançar desconcentrada por causa da dor. Ao dar a corda, era possível ouvir o soluço da bailarina, descobrindo o próprio choro. A menina que ouviu a retirou da caixinha e poliu o bracinho limpando o gesso. No meio do silêncio, tornou a colocá-la no centro da caixinha. Deu corda, e a bailarina dançou até fechar a cortina dos olhos da menina.

10 de dezembro de 2021

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

A moça do caixa tinha um sotaque tão bonito,

fui perguntar de onde era.
"Jaboatão dos Guararapes!"
Fui embora repetindo mentalmente Jaboatão dos Guararapes, até a cidade derreter na calçada,
até separar o já do boatão, até quebrar o guará dos rapés. Quando cheguei em casa já estava em Pernambuco.

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Passou a vendedora ambulante do trem

que não vejo há muito tempo.
Ela que troca sempre
a cor e o penteado do cabelo,
pra confundir o rapa,
e se espelha na Madonna e Anitta.
A vendedora do trem,
que me cumprimenta,
surpreende toda vez,
por não ser a mesma.

domingo, 5 de dezembro de 2021

 

Um Pica-Pau 

leva um desenho no nome,


sendo amarelo,


um sítio.


Avistado

no Ipiranga,


um grito.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

 


(a memória é privilegiada pelo esquecimento)
quem faz o bem
também gostaria que lhe fizessem
e tem quem acredite que Deus contabiliza gestos
pra dar entrada em casas no céu
eis a pureza em querer ser pessoa boa
uma hora
sem perceber
esquece da tal casa.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Encontrei meu igual na rua,

a alegria foi imensa.
(Agora que podemos circular mais,
ainda protegidos pela máscara)
Encontrei meu contrário,
na mesma rua,
e pra minha surpresa,
a alegria foi imensa.

Não fala o que eu vou gostar,

vai que eu gosto
de ouvir.

terça-feira, 30 de novembro de 2021

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

 

poeta custa muito pouco,

basta uma poesia,

e acaba a antipatia.

29 de novembro de 2019

Se não puder sair
passe o perfume caro
pra dormir.
29 de novembro de 2020

 

Vejo a poesia
que as pessoas mostram
que gostam
e penso:
"Mas isso eu não faço."
Aí coloco
meu orgulho
embrulhado
no papel almaço.
E esqueço
pra que escrevo.

29 de novembro de 2020

domingo, 28 de novembro de 2021

quem me ama

já não me enxerga
porque seus olhos se perdem
da compreensão.
logo mais não saberá
que cor levo nos cabelos,
qual o batom que estou usando,
se venho vestida ou sem roupa.
quem me ama
há muito decidiu
gostar de mim
como sou.
quem me ama
não precisar mais me ver.

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

 


A poesia quando não pega pelos olhos

e pelos ouvidos, pega na mão.


24 de novembro de 2019

 


Soube que tem um pedaço
da África,
queria saber o lugar,
ninguém sabe.
Teve também brasileiro laçado casado
com alguém português.
Na rota da Espanha
otomanos
cristãos novos.
Em Portugal
algum nórdico na roda dos expostos.
Termina a história dos avós
benza vó
benza vô

terça-feira, 23 de novembro de 2021


Girassóis,

giraluas,

giraestrelas.

23 de novembro de 2016


eu recomendo desativar

o face
vez em quando
sai alguém por engano
sai alguém de propósito
volta alguém de surpresa
desativar o face vez
em quando é uma beleza
o bom senso recomenda
a saúde agradece
quem é vivo sempre aparece
23/11/2015

 



Olha estas lentes
que teimam mostrar
o mundo como não vejo!


23 de novembro de 2020

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

 


Do alto
toda árvore
é bonsai.

22 de novembro de 2014

 Um gato branco e caramelo

que tinha casa
nessa vida,
encontrou outra
em Parelheiros.
Mãe e filha socorreram
para curar as feridas
que o caminho lhe fez.
Em algumas semanas de tratamento,
o desaparecido
foi encontrado,
e pra tristeza das duas,
com toda a afeição dos cuidados,
foi embora mesmo assim.
E para surpresa de todos,
voltava na segunda casa,
dia sim, e dia não.
E o dono assistiu tantas idas
que não viu outra saída,
lhes entregar o gato fugidio,
respeitando seu livre arbítrio.

(Para o gato da Joziane Soares de Sousa)