domingo, 31 de julho de 2011

Eu era a hera que cobria tudo

Eu era a hera que cobria tudo.
A parede lascada.
A árvore abandonada.
A barba do mendigo.
A larva que passava.

Eu era a hera que cobria tudo.
Os olhos que não eram azuis.
O céu que era cinza.
A cruz triste e ensaguentada de Jesus.

Eu era a hera que cobria tudo.
A barriga do Chico Barrigudo.
O gladiador sem escudo.
O cego em noite de tiroteio,
e o amor mais invejado,
daqueles que esquecem a que veio.

Eu era a hera que cobria tudo,
pra esconder o sorriso desfeito,
e encher de graça o peito,
de quem ainda pensa
que sabe tudo.


Maira Garcia

Marca d`água

Ah! Eu não estive.
Se eu não apareci, eu não estive.
E é assim que para muitos se vive.

Por Maira Garcia

Autópsia

Me pregaram uma peça,
quando
eu fui ver uma peça.
E que ninguém me peça
para explicar.
Como foi que
tiraram meu coração,
sem cortes,
e ofereceram
para eu mesma
examinar?

Maira Garcia

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Inflação

Era um menino com boné NY Yankees feito na China,
andando num trem que partia do ABC paulista.
A janela que estava aberta
deixou que levassem seu boné embora.
A passagem custava o preço de um pãozinho de sal

Era um carro seguindo um trem que saía do ABC
pelo Rodoanel
A janela que não estava aberta
desta vez deixou que levassem
sua vida embora.
A passagem hoje custa em média seis pães de sal.

Maira Garcia

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Eu sonho

Se pedir pra compor, componho.
Se pedir pra cantar, eu canto.
E se pedir pra contar, eu sonho.

Maira Garcia

terça-feira, 26 de julho de 2011

O kilo.

O que eu poderia
ter feito ontem,
ao ponto de ter
tentado
me
entreter,
é uma pergunta
boa
que me entristece
só de pesar.

Por Maira Garcia

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Na torcida

Amor sem fins lucrativos,
não fere e
provoca calor em lugares cativos.

Por Maira Garcia

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Porta-re-trato

Ah! A foto!
A folha se dobra, rasga,
de tanto querer amassar,
Molha, depois de cair o chorar
E queima, pela vontade
de apagar

E mancha enquanto os dias
assim quiserem colorir
quem tiver vontade de deixar
parada na estante.

E a imagem, como a pós-modernidade
muito bem determina,
É mais fácil, prática, econômica
e não alucina.

A gente, simples-mente arrasta,
deleta e deita em cima.

E se quiser trazer de volta, em arrependimento,
se ainda der tempo, que lindo!
Vai buscar no lixo.

Maira Garcia

terça-feira, 19 de julho de 2011

Depois da Lua de ontem

Depois da lua de ontem
Olhando a Lua lá fora, senhoras e senhores,
Eu sou senhora!
Esquecendo e aprendendo novos valores
Penhores e penhoras
Sim, senhor
Eu sou senhora!
Lembrando de antigos amores
Tingindo panos, criando novas cores
Sem terror
Eu sou,
senhora!
Observando a Lua ontem,
a manchar de cor,
do amarelo emprestado do resto de Sol
ao branco acinzentado cheio de Dó
Subindo
acima de mim e dos prédios
e a cada piscadela,
igual remédio feito pela vó,
eu ia ficando melhor
Foi aí, mesmo sendo senhora
que percebi
Eu nunca vi, a Lua assim
Mas não importa!
Tinha que ser
Agora.

Maira Garcia

 Foi feita depois da lua de ontem, para batizar o blog. São Paulo, dia 17 de junho de 2011.

sábado, 16 de julho de 2011

Não existe gente feia

Não existe gente feia,
existe gente mal iluminada.

Não existe gente feia,
entre feições que se afeiçoam,
sobreposições que não destoam,
e perfumes que não enjoam.

Não existe gente feia,
quando o assunto é
sentimento puro.

Tenho apenas uma certeza.
Que a unanimidade
na formosura
é pesadelo, 
pra quem esqueceu 
que o charme do mundo
ainda se carrega 
cá dentro. 

 Maira Garcia

terça-feira, 12 de julho de 2011

Bicho

Bicho-cigarra
Bicho-formiga
Bicho-bobo
Bicho-policia
Bicho-grilo
Bicho-preconceito
Bicho-conceito
Bicho-pseudo-louco
Bicho-pentelho
Bicho,
Bicho,
Bicho,
Bicho-que-não-se-olha-no-espelho
Bicho-irmão
Bicho-hífen
Bichos-da-música-dos-Titãs,
Bichos,
Bichos de verdade,
perdoai
os que não sabem o que dizem e
o que fazem.

Por Maira Garcia

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Novos ares para Bridget Jones.

Bridget Jones perdeu peso, não bebe mais e quem diria, encontrou o cara certo após matéria que fez sobre as condições atmosféricas do Parque Ibirapuera em São Paulo. Mais atenta aos sinais da vida depois que começou a Meditação Transcedental com seu amigo David Lynch, viu um professor de Tai Chi Chuan usando uma máscara igual a que ela utilizou durante a reportagem.
O chinês “boniton”mascarado, assim que a reconheceu, ganhou o coração da repórter após chamá-la para fazer meditação na Liberdade, na maior liberdade. Agora ela só quer saber de Meditação Zazen e em breve trará ao mundo um chinesinho, made in Brazil.

Maira Garcia, diretamente do Ouviram do Ipiranga as Margens Plácidas aonde existe um parque com o mesmo problema do Ibirapuera, informa: não temos fotos boas para mostrar dos pombinhos porque eles não tiram a máscara nem ferrando...

terça-feira, 5 de julho de 2011

Paira

Transparente sou
com efeito,
Água
Meus olhos não mentem.
São dormidos
Rasgados, latinos.
e por ser de brasilis são sobresalentes.
Meu coração dança com a África,
minha memória é celta.
Minha voz quer ouvir os índios daqui
Enquanto meu prato
ainda precisa da páprica
para
ser
feliz.
A vida soa por repentes,
e noutro instante
me descortino.
Sou Americana do Sul.
E você, que me dizes?

 Maira Garcia.

sábado, 2 de julho de 2011

Pirata

Brincos de argola formam um anel.
São pulseiras, ou algemas rumo ao céu?
Desse lugar que não vou,
                          do olhar que não dou,
                                   da pessoa que não sou
                       e do seu rock and roll.

                                Por Maira Garcia

Ouriço

Ouriço,
Delicado e protegido por si mesmo.
Todo meu apreço.

                                 Por Maira Garcia

Um metro

Um metro pra mim é muito,
e eu te peço tão pouco!
Já aguentei desaforos,
aforismos
Dores, ausências
regras, reticências
Não vejo o mesmo brilho nos teus olhos
Um metro pra mim é muito
porque nunca lhe fui mínima
                                       
                                      Por Maira Garcia
                            

Segundo turno

Quem disse que eleição não tem poesia?
Empate de grosserias
Contrastes em demasia
Gêmeos separados ao nascer
A dizer em meias patacas
Que o país é o mesmo querer
De vender sonhos pendurados em estacas
Pra quem sobreviver
Dirá que o mote serviu o féu
E que a palavra ainda é troféu
A servir a boa
 e velha necessária,
 democracia.
         
Maira Garcia

31/10/2010

Descobriu

Que amores vãos,
escorrem pelas mãos.
 E que bom!
Se vão!


             Por    Maira Garcia

Couro

Desistiu de se despir
a um amor fale-cido
Simulou sim,
O ato de
sorrir
Não soube o que fazer
ao repetir ali
O que não fazia mais
sem ser sentido

             Por    Maira Garcia