quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

E quero pouca coisa material,
se puder beijar um açaí 
pra não precisar usar batom.
Pra mim tá bom.

O poeta é um servente

O poeta é um servente
das palavras.
E sendo um, fica proibido acreditar
que é uma sumidade.
Quando isso acontece,
a palavra serve,
e se apresenta,
e se retira rabugenta.
Funcionária,
a colega se aborrece,
cisma,
e sai à procura de carisma.
A palavra
faz piquete,
ferve,
pede a palavra
e faz greve.
Quando o poeta esqueci de si,
a poesia volta a trabalhar feliz.
O tempo é um namorador incorrigível
que troca a noite pelo dia. 
Isto explica a razão do dia que se demora
e a noite que encurta vez ou outra.
O tempo de roupa passada 
volta puído de namorada.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Amor em atraso

Quando você chegar,
que sei que ainda não veio.

A Lua
será a cera
da abelha,
a saliva do dia
a uva que adivinha
 o vinho
o amor que em desuso
descansa
esperando
a esperança
em Sol.




Desejar o bem,
ainda bem,
não custa nada.

domingo, 28 de dezembro de 2014

 Desejo
Toda a atenção que se é capaz,
pois se você ainda não percebeu,
estava tão distraído quanto eu.
Atenção, é o que desejo a quem me lê em 2015.
Sem ela você perde algumas coisas incríveis,
como a sorte de ganhar na loteria da vida,
e não saber, por esquecer de conferir,
adivinha quem?
Você.
Atenção para atravessar a rua,
abotoar a blusa,
levar o agasalho,
tomar a pílula,
usar a camisinha,
ouvir o que se diz,
olhar nas iris dos olhos,
fazer o exame de sangue
e de consciência,
cuidar do check list e de si,
insistir no que existe,
desligar o celular,
perceber
o que é ser feliz.
O que mais para desejar?
Me diz, aí?
Numa terra desatenta
A cigarra canta,
não há outro jeito
de lembrar 
a esperança.
Eu bem pequena,
vivia numa Vila,
nela tinha uma praça
redonda,
que me fez crer
na redondice do mundo
primeiro, antes do
mapa da escola.
O banco de concreto,
a grama verde,
a calçada de Copacabana
bem perto da Estrada de Santos.
Skate barulhento de birra que gira,
cachorro rabugento da vizinha,
senhorinhas floridas,
maiores que eu,
matando aula.
O pintor alemão
e seu quadro quase pronto,
pipas cortantes voando
sempre de novo,
o sonho do primeiro
beijo que não foi ali.
Boa noite, Vila Aurora.
Cresci.
Alguém duvida,
que a tela de cinema
criou vida?
Nas passagens os bilhetes de embarque.

sábado, 27 de dezembro de 2014

Há um sorriso atrevido na mentira,
que faz ranger os dentes.
Quem já mentiu sente.
O amor,
que doia pelo que
não deu.
Sarou
do amor não era seu.
Valeu.
Salve-me quem puder
que estou na poça,
para quem possa
salvar-me.
Tentei meu zunido,
mas acabou o alarme.
Assinado,
Mosquito.
A música alta, 
que surge do nada, 
bem na hora de dormir, 
o empurrão na escada, 
a fumaça do cigarro,
teimando em existir,
a água que de tão pouca não enxagua,
a luz que não ascende
e depois acaba,
a abelha que insiste
em te seguir.
Nenhum chato
aborrece,
o mundo buzinando,
despencando,
tudo por um triz.
No instante,
por incrível que pareça,
aconteça o que aconteça
existe em você
alguém muito feliz.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Eu não quero um homem poeta

Eu não quero um homem poeta,
eu quero um que apenas segure a linha reta,
para caber minhas palavras,
que ele seja meu verso sem rima,
que ele deite sua língua
na minha língua.
Que a pessoa que você 
não se declara possa ler:
Eu amo você.
O que a gente perde na transparência,
a vida recompensa.
O mar avança no céu,
nuvens carregadas 
descansam na Lua.
a alegria de tudo isso
vem de um sonho
que não foi destruído
Zê éle,
Bairro do Belenzinho,
perto do Natal.
Tarde não é,
faz noite de Sol.
Se quiser me conta,
o que der pra contar, 
no dia que a gente se ver,
que no dia a gente faz um colar,
eu te peço pra você fechar o fecho,
e eu te conto,
e você me conta,
e a gente não fala mais nada,
que no conto de se contar,
a gente se beija e pronto.
Dois mendigos que ganharam uma pilha de livros:
- Tá vendo este livro, amigo? Eu não sei se ele é bom, vou precisar ler pra saber!
- E este aqui, quando saiu, ganhei e nem quis ler, e agora veio me encontrar, meio que dizendo, vai ter que me ler na força, eu vim atrás de você!
- Um livro inimigo que te perseguia, e finalmente te encontrou. 
- Quem me deu este livro, quando na vida eu podia muito, não era meu amigo.
- O que fez ele, o tal o amigo ?
- É uma história que me trouxe aqui.
- Você não quer falar, tudo bem!
- A última vez que eu desembestei a contar no abrigo, tiveram que chamar o SAMU, pulemos esta parte.
- E do que fala este livro?
- De um homem que lia livros, mais do que pessoas, e acabou esquecendo de si.
- Este livro parece com você. Já vi você lendo e as pessoas perguntando coisas e você dizendo que não sabia quem era, e que não podia responder. E depois disso que eu vi, você sumiu. Quero ver o que vai acontecer quando terminar de ler estes livros, em que lugar você vai parar?
- E por que você está me contando isso?
- Você não vai lembrar de nada que conversamos depois de ler o livro.
Aproveito para fazer votos que volte, sabe que todos aqui gostamos muito de você?
- Agradeço o conselho e o apreço. Agora, com sua licença, vou começar a ler!
- Volte logo!
- Que conversa sem pé nem cabeça!
E o mendigo que se esquecia no livro nunca mais voltou.
Respira
vertigem 
submersa,
juras nas
promessas
das raízes
descobertas.
Se tu flores
Se tu frutos

Se tu carros
Se tu calçadas

Se tu muros
Se tu tintas

A cidade pede piedade

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

e quando a boca mora longe
e que não tem passagem de ida assim na mão
e quando não se tem passagem de volta
que a passagem não tem coração
Ah, essas carroças de reciclado
que andam na cidade, 
coçam os olhos, 
dão rasteira nos sentimentos, 
limpam os cantos, 
disciplinam os entulhos,
espirram esperanças.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Foi de encostar o ouvido no peito,
que respeito aprendeu direito.
Fez sentido
Tenho paura
de quem carrega com tudo,
guarda-chuva
pontudo,
como quem fura,
sem olhar para trás.
Passou a chuva,
e você está na rua,
olha quanta gente faz!
Galocha, capa, dia chuvoso.
Dois num rádio
toca no aquário
Caetano Veloso.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Homem, eu sei que de alguém você gosta,
basta ver essa flor em suas costas,
elas caíram logo aí,
quem vem andando atrás,
não para de sorrir.
O livro emprestado tomou banho de graça na minha bolsa.
Toda economia submergiu.
Vou ter que ir numa livraria, viu?
As últimas páginas onde ninguém sorria são lágrimas.
O bolso agradeceu de dor pela investida do tempo.
A chuva foi cair na mochila
esqueci de levar o plástico que deixei na cozinha.
Lamento.
A trave do olho é entrave,
pra virar um cisco,
que a lágrima lave.
A trave pede gol,
mas gosta mais
é do empate.
ao anoitecer
começa saudade do dia

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Como esquecer um sujeito
cheio de predicados?
Poesia ia,
de noite e de dia,
o que vai
da vida
num vão.

Outro dia

Outro dia
ouvi
de quem se diz
que muito sabe,
que achasse normal
pequenas crueldades,
nesses dias diz que me dizes,
foi então que eu fiz
um conto,
que abriu um ponto
na minha pele,
sobre o tudo
que penso sobre o assunto,
nele, digo que fujo,
fujo loucamente dessa
normalidade,
fujo muito,
sem saudade,
e não me omito
ao ver o banalizar
das fraquezas alheias,
é com a certeza
então
que peço ao meu corpo fraco,
como a folha seca e o farrapo,
que esfarela inteiro
o meu ego,
que ele seja meu ponto cego,
que permeia
e sente,
infelizmente,
a dor
que o outro sente.
É pra isso que fico inteira,
de repente.
A hora que eu quero,
ser mais
pessoa
do que gente.
Pernas e troncos e braços
e folhas e pele
e abraços.
Chuva que se recolhe 
pede casa,
esfria e dorme.
Seis anos,
os olhos eram os mesmos,
que não se abriam,
sono de ver
todo o tempo,
enquanto os dentes
sorriam.
Você é meu pão murcho,
o varal que cabe numa brecha do apartamento,
a música do vizinho no talo, o último fósforo da casa, o gato que só aparece pra comer de noite, o café que passei duas vezes e você não percebeu, o lugar disputado a tapa no trem, a calça jeans de dez anos, a carteirinha de estudante vencida, o bolo que não precisa de fermento, o final do chiclete, as palavras cruzadas preenchidas, o radinho AM que ainda pega, a fila do banco, o sapato que se descobre furado em dia de chuva, o mamão com açúcar, o sabonete derretido no banheiro, as notas de dinheiro que endureceram no bolso do macacão lavado, a brecada sem aviso do
ônibus, aquele que quer passar sem pedir licença.
Não me peça mais para ser romântico.
.
Caído 
ficou o gato 
cansado,
correu tanto 
que apagou no ato.
O amor quando aparece,
não se apresenta facilmente.
Chega num disfarce, 
pois sabe
do medo 
que se sente.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Tem quem fique 
muito tempo sem beijar
e quando beija sente cócegas.
Baixaram uma lei,
ficou proibido 
falar de ex.
Grafite é a vontade sincera de deixar bonito
o caminho. A esperança mais estranha
de dias mais coloridos. 
Uma formiga trazia um cartaz no lombo,
para que um pé gigante não destruisse o formigueiro, 
antes da mesma ser pisada sem
querer:
- Sou avessa à pequenas crueldades,
quem não entende que se afaste.
Pra des-apaixonar,
é só prestar
atenção.
em quem acreditamos gostar,
e se descobrir,
pode
combinar
decepção.
Então deixe estar,
tédio haverá de confirmar,
e se nenhum
sentimento
sobrar,
se
era amor,
ou
não.
Desamor,
coração desarmado.
Amor,
coração atirado
na mansidão.
Lugares parecidos,
pessoas familiares,
perfumes pelos ares,
tem o compromisso
assumido 
de nascer
como saudade.
As palavras caíram,
depois me apanharam,
mas eu peguei carona no
céu da tua boca.
Ao cair da tarde,
em outra parte,
o mundo se levanta.
Anoitece de esperança.
Sempre tem lugar para o amor.
Não se pre-ocupe.
Lets go daqui
Meu bem eu fiz o que pude,
não me venha agora com
seu sorriso Hollywood.
Acabou,
é o fim,
meu I love you,
não fico mais aqui,
estou indo pro Pari.

sábado, 6 de dezembro de 2014

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Não conta pra ninguém,
que eu perdi os sonhos
por contar até cem?
Contei tanto que perdi as contas
e os carneirinhos.
Vou recontar devagarinho.
E tentar guardar em algum lugar,
que tem sonho
que sonha sozinho.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

A paixão atravessa,
a compaixão conversa,
o amor faz compressa
pra curar a inflamação.
É a verdade 
que amadurece 
e cai da árvore.
Edifício Marajó

Eu podia jurar que era um filme,
pessoas vez ou outra
dançam nas janelas.
Da calçada em frente
passa um filme contra o
tédio.
Não tem praça,
não tem praia,
olha que tem prédio!

domingo, 30 de novembro de 2014

Há um Fernando
em cada Pessoa.

Há, isso há!
Um Mia,
uma Florbela,
 um Trindade,
Carlos,
Maria,
Mandela.

Há um Fernando
em cada lapela,
folha, rascunho,
janela.

Em cada Pessoa,
de vez em quando,
há um Fernando.

Há isso há.
A mochila leva o mundo
ora nas costas, ora no peito,
ora na barriga,
e tem hora que o mundo gira.

fogo brando

Foram três anos com
meu coração em fogo brando.
Foi então que eu servi.
Servi pra mim.

sábado, 29 de novembro de 2014

Insuportável

No trem, numa conversa pra todo mundo ouvir:
- Então a mina dele é insuportável?
- Insuportável e linda!
- O linda é um troço subjetivo que não dá pra
calcular ou resolver! Já o insuportável...
- Desistir? Eu não consigo esquecer ele!
- Esquece ele, antes que você fique insuportável. Lindamente insuportável,
como ela é, ele é, e você quer ficar também!
- Meu, você é incrível!
- Não sei se eu sou, você nunca quis ficar comigo.
Beijo de três estações de trem não deram conta, quem viu sentiu uma inveja insuportável.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Não foi sorte,
foi a chuva forte,
quem me deu um norte.
O mar não segurou,
corredeira tropeçou,
cachoeira engasgou,
barreira não segurou.
Quando fui ver,
não deu tempo.
Quando fui ver,
eu fui.
Fui sem nenhum
lamento.
Fui ver,
mas não deu tempo.
Eu fui.
Quando fui ver,
com tudo que fui,
com tudo que se foi
com tudo que flui.
Fui com tudo.
Contudo.

Não foi sorte,
foi a chuva forte
quem me deu um norte.

Com tudo que serei eu fui.
Sereia sobrevivi.


quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A pauta é mais branca, pois precisamos
 ter mais negros nos bancos.
Os anúncios são mais brancos,
pois precisamos ter mais negros nos
bancos.
As piadas são mais brancas,
precisamos ter mais negros nos bancos.
A beleza é mais branca, pois precisamos
ter mais negros nos bancos.
Um dia, eu sendo branca vou poder falar
e ser respeitada ao falar da causa negra,
sem precisar pedir licença.
Amor que não é
paixão ensinou
que é cisma.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Chinelança

Se todas as palavras
que eu te disse,
um dia
caíssem,
calçaria
 você
para vir
até aqui
me ver,
pensei.
Só que as
palavras
me contaram
que as palavras
 ditas por
você
 iam em
outra direção.
E no dia que as palavras caíram,
não foi bem assim que aconteceu.
Num encanto
decisivo
formaram
um chinelo compreensivo,
e correram
atrás de mim.
Doeu.
Arrogância é o arroz que foi feito e sobrou na panela ainda fresco, e foi preciso jogar fora.
A gente passa pelo caus
pra ganhar da desilusão.
- A vista
desejava
 ficar
e o prédio
não deixou,
 mandou fazer
outra vista.
Muitas vistas fizeram
as cidades.
A garantia de ver o por do Sol
a gente não tem como oferecer!
Disse o corretor de imóveis da sacada.
- Vou ficar com o apartamento,
a sua poesia me convenceu!
Onde assino?
Abraçou o corretor o comprador.
Quem foi cuidado
e depois cuidou,
ouviu com muito cuidado
o que se descuidou:
- Eu sou meu, a vida é minha.
Frase que um bebê jamais diria.

domingo, 23 de novembro de 2014

Tema de um bolero

Você não suporta
a minha presença.
Eu sei,
é por saber o que eu sinto,
por saber a minha sentença.

Te amar é uma ofensa.
Pintar o cabelo ilude o tempo?
Quando o tempo enxerga um
cabelo pintado,
na verdade ele sente medo,
o tempo olha apavorado,
e sai correndo.

Menino sem cabeça

 A lanterna vermelha do carro que foi na frente,
deixou um rastro na faixa de pedestre.
Logo em seguida,
do lado esquerdo,
vejo uma luz verde
cobrindo
a noite,
farol aberto,
o carro Palio prata para,
menino descoberto
encosta na porta,
suas mãos escorrem,
os dedos na janela chovem.
Vestindo roupas
claras na pele quase escura,
ele encolhe,
mas estica a bermuda,
as meias, e os tênis dos pés
para ficar maior do que é,
e fica.
Esconde a cabeça na jaqueta.
Quem vê de longe vê
um menino sem cabeça.
Não sei se o carro abre a porta,
se abre a janela,
se o menino assalta,
se a vida solta,
se ele ganha um lanche,
se ele ganha uma chance.
O carro que eu estava
não pagou pra ver,
mas não esqueço
o menino sem cabeça,
e não adormeço
até que o dia amanheça.
E eu não esqueço do
menino sem cabeça.
E a lanterna vermelha
deixa um rastro na despedida
do carro que fica.
E eu não esqueço,
do menino sem cabeça.


quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Nada pode ser o mais nada
Nada pode ser o mais
Nada pode ser o
Nada pode ser
Nada pode
Nada
Nada pode
Nada pode ser
Nada pode ser o
Nada pode ser o mais
Nada pode ser o mais nada
As cores não escolhem olhares,
cores mandam tudo pelos ares,
ocupam os lugares,
e coitado de quem
cria dissabores!
Quanto chorare!
No futuro,
espinhos
ornamentarão altares,
e cores, das flores
Detalhes.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Amor que não tapa buraco
é o melhor amor que existe.
Vem sem o compromisso
de apagar estragos,
e não desiste apenas de ser amor.
Recebe o respiro perfumado
da hortelã mastigada,
pra matar a sede com a água mais pura.
Amor que não tapa buraco
chega de banho tomado,
com vontade de despentear o cabelo,
com o pedido de esquecer a chapinha
e deixar tudo cacheado.
Eu quero um amor que não tapa buraco,
que o amor feinho, da Adélia Prado,
já está no meu carrinho.
Agora eu posso pedir um amor que não tapa buraco,
amor de quem não se importa mais de ficar sozinho.