domingo, 30 de julho de 2017

Saudade é palavra
cheia de sal,
pra matá-la
beba muita água,
e diga que é bobagem
sentir saudade
 na boca.
Um compositor
cansado
de compor,
baila com a partitura.
Soltaria confetes do alto
de um prédio.

Confetes que caíssem  apenas em sua cabeça.

Quem sabe assim,
você me olharia!

Teríamos o carnaval.
Ela trazia uma mala de mão, ia se equilibrando com um travesseiro.

Malabares precisos,
desviando dos pedestres,
o tempo inteiro.

Chegou na casa
que ninguém
 estava.
Abriu a porta,
chegou no quarto,
encostou a mala.
Caiu na cama abraçada
 no travesseiro.
Dormiu.
Ontem estava na beira de um bar de rodoviária espiando a bem escrita novela da Glória Perez, o atendente me interpelou:
"Deseja alguma coisa?"
"Não, só estou espiando a novela! Obrigada!"
"Eu não vejo novela, minha patroa é que vê, mas esta novela tem verdades! Você lê a Bíblia?" Fiquei em silêncio. "Tem a moça que quer virar homem, homem que esconde que é mulher, a mulher de bandido! É tudo baseado na vida real!" E prosseguiu. "Se a senhora ler a Bíblia, tem Sodoma e Gomorra, igual tá aí! Imagine que Deus mandou anjos e os homens da cidade quiseram transar com eles! Tá igual, não vai sobrar nada." "É importante retratar na novela a questão do trans, é muito sofrimento o que eles passam!" Olhei pra plataforma, meu ônibus chegou, me despedi, subi  pensando no vão que existe em muitos de nós, fiquei olhando pro bar, vendo a criatura que coberto de inocência enxerga a Bíblia na novela que ele não vê.
Há muito tempo
que não me apaixono,
não invento história

Escrevo sobre amor

de memória.
Os pés nem
se conhecem,
mas já dormem juntos.
Dorme no parapeito
 do prédio
e sonha com os ranchos,
as matas,
e as praias,
mas acorda,
e encontra apenas
árvores na calçada,
onde voa como
quem esquece o sonho.
Os pés nem
se conhecem,

mas eles vão
mesmo assim,

como se tem feito
desde o princípio,
meio e fim.
A melhor coisa na euforia
É quando ela passa.
A alegria podia ser enrolada nas meias,
ao abrir gavetas
a felicidade.
Esperança tem muito de espera.
Segura o celular como se fosse outra mão.
Desliza sem tocar as unhas.
Tem um espelho pra retocar a paisagem.
Tem as palavras, a voz a imagem, mas não contém pessoa. Pessoa não precisa de bateria e fica muito feliz em ganhar um abraço.
Seu celular não tem abraço?
Então você não tem nada em mãos.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

domingo, 23 de julho de 2017

sábado, 22 de julho de 2017

Um botão do casaco
 se perdeu na mão de um,
 que foi embora e esqueceu no bolso de um beijo silencioso.

Depois em casa,
 achou
 no bolso.

Ninguém ligou pra ninguém, mas o botão ficou na mão do moço,
que demorou pra ligar,
tanto que ao tentar,
o botão já estava
pregado em outro.
A gente morre de mentira quando esfria.
E nasce de verdade quando esquenta.
Frio é você com você,
com calor é você e o outro.

domingo, 16 de julho de 2017

Ele surgiu na entrada do cinema, no alto do seu cabelo preso, terno cinza, postura curvada. Depois sumiu. Surgiu sorrindo para entrar na mesma fileira que ela, atrapalhada, sentada de saia florida, pipoca no meio das pernas. Seu lugar era ao lado dela, mas só encorajou quando um casal cobrou o seu assento. Conversaram até o trailer começar. O filme era pra rir, riram uníssonos. O filme era pra constranger, silenciaram. Na hora do letreiro, não se sabe o porquê, deu uma vontade louca dela ir embora e dar tchau. Lá fora, se viram pelo espelho do hall, ele sorriu, ela ficou sem graça e não olhou mais. Quando viu ele já tinha ido embora. E ficaram com essa história até dormir. E esqueceram, que é sempre melhor assim. Mas a cidade grande quando quer fica bem pequena, se reencontraram tempos depois no mesmo cinema, aí ele segurou nas mãos dela e disse "hoje ninguém dá tchau."

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Engana-se quem tem muita certeza.
Ontem tive uma experiência interessante. Peguei um papel e escrevi palavras que eu gosto. De repente elas me levaram para o lugar que elas moram na minha imaginação. Assim eu meditei segurando um lápis, apoiada num caderno.
a fome mata
tiros no prato que cala
Com você eu dei na vista. Minha miopia impressionista.
Amigos são gurus.
Um pedaço de Sol
num olho fechado,
madrugada.
Tanta coisa não acontece para outra acontecer.
A borboleta branca,
algodão que flutua,
que por mim
passa fingindo
que é Lua.
Coração foi encontrado novinho em folha.
Eu escolho o dia pelos olhos,
domingo tem os olhos pretos,
não se enxerga a pupila,
apenas seus apelos.

domingo, 9 de julho de 2017

quinta-feira, 6 de julho de 2017

O azul dói nos olhos
 tristes,
que se fecham,
até o dia de colocar
 lentes escuras.
Até o dia que não
precisam mais de óculos,
com olhos bem abertos.
O dia da cura.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

segunda-feira, 3 de julho de 2017

É quando você passa
 que a vida fica
 cheia de graça,
e depois
que você passa
tudo fica sem graça
até aparecer a vida.

domingo, 2 de julho de 2017