quarta-feira, 30 de março de 2022

 

Apaixonar-se pela palavra
e pela escrita
cessa a entrega.
Escrever a uma só pessoa
não conheço maior solidão numa frase.

a ausência das pessoas nos lugares,

baita saudade.

Não há insônia que resista

duas pálpebras 

dando selinho.


30 de março de 2021

segunda-feira, 28 de março de 2022

 

Você me viu ao longe,
por um poema que fiz na cidade.

A você, que mora num lugar tão frio.

Saudades.

 

Leia um poema
como se comesse
uma iguaria,
que você detesta,
ou se delicia.
Leia um poema como
se bebesse Tubaína,
ou uma bebida fina.
Comesse uma paçoca,
ou amendoim.
É mais ou menos assim.
Nem todo poema é gostoso,
mas é preciso
ter o gosto de provar.

28 de março de 2019, em outra plataforma digital.

As lágrimas que correm até o peito

encontram barreiras nas mãos,
e nos lenços.
De alegria, na passagem, dão cócegas no rosto,
de tristeza, sem impedimento, chegam logo no peito
pra matar a sede onde tudo começa.

domingo, 27 de março de 2022

É do ser humano escolher ser sincero com a pessoa errada,

e da forma errada ser sincero.

Se você tem o amanhã

você tem o mundo.

26 de março de 2020

Durante a conquista

não dou certeza de nada,
finjo que não quero
quando quero de fato
e demonstro
apenas quando
não me importo.

26 de março de 2019

 

preciso muito pouco
pouco muito
preciso
pra gostar de alguém

26 de março de 2019, postado em outra plataforma na mesma data.

longa caminhada

da pomba no assoalho

quase não notei.


26 de março de 2022, postado em outra plataforma na mesma data.

Para Ricardo Palmieri 


O homem fazia gaiola,

dessas que os pássaros
assistem o mundo do lado
de dentro com gravetos.
Um dia chegou um violeiro
e disse pra ele deixar a gaiola de lado:
"Faça viola!"
E assim o homem fez.
E os pássaros invadiram
sua oficina na hora de testar as cordas.

24 de março de 2019, postado em outra plataforma.

quinta-feira, 24 de março de 2022

 


Os piores dias pra dizer eu te amo,
pensei que não existissem.
É que há mais de 100 anos
não se sabia
desses dias por aqui.
Dias que ficarão na história
como dias de não sorrir.
Mas antes de chegar esses dias
deu pressa de falar:
eu te amo
Porque não sabia se teria outro dia,
nem um coração.
24 de março de 2021, postado em outra plataforma na mesma data.

 vejo e você não vê meu beijo


23 de março de 2022, postado em outra plataforma na mesma data.

é estranho que alguém queira

dançar justo agora,
mas a dança nem sempre comemora,

ela socorre.

23 de março de 2022, postado em outra plataforma na mesma data.

 

Sonhei que cantava
uma canção que não conhecia
e que desafinava
numa nota dificílima.

23 de março de 2022, postado em outra plataforma, na mesma data.

 

Ao ser notada,
tomo nota
de cada nota,
noto o tom da voz
e se me sentir a sós,
estou perdida.

23 de março de 2019, postado em outra plataforma, na mesma data.

 

A poesia chegou
numa Primavera
quando eu tinha 10 anos.

Até os 30
não se mostrava,
me deixou
e esqueci.

Nos 40,
num Outono
como esse
ela voltou e não quis
mais ir embora.

21 de março de 2019, postado em outra plataforma na mesma data.


Quando as palavras me feriram:
Fui buscá-las nos olhos de um mendigo
que juntava folhas que encontrava
em textos aparentemente sem sentido.
Não soube me responder seu nome
mas disse que eu e ele
e todo mundo some
Que uma sua saudade de não sei de que enorme
não tem sobrenome
que as palavras ajudam a saber que ele é um homem
que sentindo fome
não tendo o que comer
lê no papel o nome da comida
e sentindo fome de mulher
come uma folha de revista


21 de março de 2017, postado em outra plataforma na mesma data.

terça-feira, 22 de março de 2022

 


A segunda impressão é que fica,

quando a primeira sai borrada.


22 de março de 2019, postado em outra plataforma, nesta data.

segunda-feira, 21 de março de 2022



Lorenzo é meu amigo poeta,

pois adivinha sentimento.


21 de março de 2019, postado em outra plataforma na mesma data. 

 

Nosso amor foi um risco
no mármore,
risco esse que não fica.
Foi embora porque chegou tarde,
e bem que eu tento,
mas não se explica.

domingo, 20 de março de 2022

 


A gente não se faz sozinho,
se forma com as coisas


que esbarram
no caminho.


19 de março de 2019, postado em outra plataforma na mesma data.

 

A poesia é um lugar seguro pra se refugiar.


20 de março de 2021, postado em outra plataforma, na mesma data.

 

Meus olhos
se demoram.
As lágrimas
c
o
n
t
a
m
g
o
t
a
s
Eu não conto.
choro por muito pouco.
Eu olho.

20 de março de 2021, postado em outra plataforma na mesma data.

 

Sonhei com ele,
ele que não tenho
porque ter
é sempre posse.
No sonho
Saliva.
Abraço.
Aperto.
Bem de perto.
Acordei,
senti saudades
do que não tive.
Mas por hora,
agradeço o sonho.
É o que se pode ter sem a tal da posse.

20 de março de 2020, postado em outra plataforma.


Este latido que lembra um uivo. 

Sempre quis saber sobre o significado da variação dos latidos.

E o uivo é logo seguido.

Ao ouvir, já aparece a floresta,

porque é do instinto.

Seria um grito de dor,

que feito em uníssono

dissipa.

O silêncio que veio depois confirma.

sábado, 19 de março de 2022

 

Em Monte Carmelo
passam mineiros
com suas carroças.
O lugarejo é de passagem.
O comércio para servi-los.
Quando se vão
os montecarmelenses
não usam o tchau,
até breve,
perguntam:
"Você volta?
Um dia se o ouro acabar
a cidade desaparece.
Mas acordei hoje
com a notícia que
o ouro acabou.
Não vi mais as carroças,
vi pessoas nas suas casas,
dentro da matriz,
pelo comércio,
passando com os carros.
A gente nunca sabe do destino,
nem o que será do ouro,
nem se volta.
19 de março de 2020, postado em outra plataforma

Destreinados

para namoro,

cada recomeço

é tudo de novo.

19 de março de 2018, postado em outra plataforma na mesma data.

 

A inveja tem uma serventia,
mostrar o que se deseja
e não se sabia.
A inveja com direção acertada é melhoria.
Não azeda quem causou
a olhada ou iguaria.
Inveja boa não mata,
quem diria!

19 de março de 2018, postado em outra plataforma nesta data.

sexta-feira, 18 de março de 2022

 

Era uma fagulha.

Espera ver

outra que surja.

Deixa queimar

que passa.


18 de março de 2018, postado na mesma data em outra plataforma digital.

 

Outro dia os olhos me viram,
depois veio o corpo
sentar ao meu lado.
Ficamos em silêncio.
Hoje no elevador
falou comigo.
nossos olhos sorriram.

18 de março de 2019, postado na mesma data em outra plataforma digital.

Ele foi criado pra ser um cachorro bravo,

mas fracassou,
vocação interrompida,
com feição de quem
quer sempre comida,
foi convidado pra passear sem volta.

Mas parado parecia um cão bravo.

Foi então que uma casa
que nunca é alugada precisava de um cachorro ator,
que parado parecia um cão bravo,
e naquela casa ele ficou.
Mas bastava uma pessoa encostar no portão
que a cara do bicho atravessava,
o olhar de piedade aparecia,
aquela cara feliz como quem ganha comida.
Foi um dia desses que ninguém
acredita que apareceu gente
pra alugar a casa,
o locatário foi buscar o cachorro,
o inquilino disse que só alugava
com o bicho junto.
E o cão fechou o negócio.

18 de março de 2019, postado na mesma data em outra plataforma digital.

DITA

Qualquer poema bom provém do amor
narcíseo. Sei bem do que estou falando
e os faço eu mesmo, pondo à orelha a flor
da pele da palavras, justo quando
assino os heterônimos famosos:
Catulo, Caetano, Safo ou Fernando.
Falo por todos. Somos fabulosos
por sermos enquanto nos desejando.
Beijando o espelho d’água da linguagem,
jamais tivemos mesmo outra mensagem,
jamais adivinhando se a arte imita
a vida ou se a incita ou se é bobagem:
desejarmo-nos é a nossa desdita,
pedindo-nos demais que seja dita.
Antonio Cícero

quarta-feira, 16 de março de 2022

Para o poeta Antonio Cícero, anos após assistir sua palestra na Casa das Rosas. 


não é poema se falta a poesia

Sábado é o dia que quem canta

não é obrigado a cantar direito.

16 de março de 2019, postado em outra plataforma na mesma data.

Olhar nas pessoas

mazelas

tão conhecidas
em histórias esquecidas

em suas paisagens.

Por tragédias incontáveis

a numerar na memória.

Isto não é um poema porque me faltou a poesia.



16 de março de 2020, postado em outra plataforma na mesma data


 

O amor que morre num corpo,
nasce em outro.

 

Quando o Corona passar
o abraço voltará a ser abraço,
o beijo voltará a ser beijo,
o cumprimento voltará a ser
cumprimento.
Enquanto isso
sou saudade
de gente que está perto.
Aprendo esse novo
sentimento.

16 de março de 2020, postado nesta data em outra plataforma.

Para o que você

não entendia,

faltou empatia.


16 de março de 2018, postado em outra plataforma nesta data.

terça-feira, 15 de março de 2022


No começo a onda levou muita gente.
Recolhia num movimento desconcertante.
Adaptados dessas águas,
veio a guerra,
não que a Terra não tivesse outras,
como a das ondas,
mas uma do tamanho que podia correr o mundo.
Aí vieram os pássaros
para distrair os que guerreiam,
a mostrar como fogem
diante do perigo.
O recuo contínuo
para manter e criar novas rotas,
avançar e voltar fugindo
das bombas.
A dispersão das aves têm o quantum que ensina a saída.
Basta olhar para o céu.

domingo, 13 de março de 2022

Se leio Florbela

não escrevo,
se leio Drummond
não escrevo,
se leio Adélia
não escrevo,
se leio Bishop
não escrevo,
se leio Wislawa
não escrevo,
se leio Bandeira
não escrevo,
se leio Coralina
não escrevo,
se leio Carolina
não escrevo,
se leio Clarice
não escrevo,
se leio Quintana
não escrevo,
se leio Rosalía
não escrevo,
se leio Pessoa
não escrevo,
se leio Emily
não escrevo,
não escrevo,
não escrevo.
Eu leio.

13 de março de 2018, postado em outra plataforma nesta data