quinta-feira, 1 de julho de 2021

Uma bota de montaria estava sem serventia, parada num bazar da pechincha na Liberdade. Uma mulher gostou dela e levou por uma bagatela pra arrumar numa sapataria. A bota era preta mas subia até o joelho na cor de caramelo. Cortou o caramelo a bota coube nas pernas grossas. Agora cavalga nas calçadas, num refinado coturno. Punk com a fineza discreta de suas esquinas. Outro dia, um prego apareceu no solado a machucar a sola, levou no sapateiro e tirou com um instrumento que parecia de dentista. O sapateiro é o médico da dita cuja. Já avisou que é hora de olhar o solado, a mulher pisa errado e está gasto em um dos lados. Hoje a bota a salvou do coice da calçada, sem ela o tornozelo quebrava. Semana que vem é hora da recauchutagem do coturno. Uma semana sem ver a bota, a cidade vai sentir falta.


1 de julho de 2019, postado no meu facebook

Nenhum comentário:

Postar um comentário