quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

 

O rapaz interessado nela,
quando a encontrava fazia festa, se desdobrava em gentilezas, e ela, muito ressabiada, não cedia e ainda tomava distância. Toda vez se dava o mesmo, até que um dia, sentindo falta dele, que não via mais na cidade, resolveu interagir pelo WhatsApp. Enviava mensagem, e nada. Amigos em comum pediam para esperar, que ele era mais analógico, que um dia, quando menos esperasse, responderia. Na ansiedade, enviava uma mensagem por dia. Enquanto isso, ficava lembrando dos gracejos, dos foras que lhe dava, e ele mesmo assim insistia. Lembrando do lirismo dos seus olhos que queriam conversa, das suas cantadas atrapalhadas cheias de mel, num romantismo pra ela constrangedor. Durante as semanas, a ausência de respostas no aplicativo: uma mensagem lida, um traço, dois traços e a esperança de leitura, dois traços azuis e nada das palavras. O rapaz interessado nela, apareceu na rua de surpresa, fez malabares, recitou versos do Quintana, beijou sua mão, e ela, sem abrir a boca, muito sem graça, foi se afastando com o celular. Quando abriu o sinal, atravessou a faixa de pedestres, o olhou pela última vez e foi embora da realidade.
27 de dezembro de 2019

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